domingo, 13 de março de 2022

O educador político e o político educador - uma resposta à senhora Márcia Bittar

                                                                                                                                            Israel Souza[1]

Na semana passada, um fato político ganhou as manchetes dos jornais e suscitou reações diversas no Acre. Márcia Bittar - pré-candidata a uma vaga no Senado e esposa do senador Márcio Bittar - deu a seguinte declaração: “a escola precisa ensinar as disciplinas técnicas: português, matemática, ciência, geografia, enfim as disciplinas e não querer educar os filhos da gente em cima de ideologias, de gênero por exemplo, ensinar que a menina pode casar com o pai, ensinar que a criança pode casar com adulto, ensinar que pode ter relação sexual com animal, ensinar que pode legalizar o aborto, a droga. Essas coisas precisam ser combatidas dentro da nossa escola”.

Como se vê, em resumidas contas, ela fez uma tripla insinuação/acusação contra nossas escolas e nossos professores: incesto, pedofilia e zoofilia.

De minha parte, professor, pesquisador e escritor habituado a tirar lições mesmo do que há de mais repugnante na política, confesso que tive receio de fazê-lo em relação às palavras da senhora Márcia Bittar. Contudo, é esse desafio que enfrento nas linhas seguintes.

Antes do mais, importa destacar o quanto suas palavras estão em pleno acordo com o que é feito pelo grupo político a que ela pertence, grupo formado por Bolsonaro e seu marido Márcio Bittar, dentre outros. Como se sabe, esse é um grupo pouco afeito à verdade e dado a irresponsabilidades sem conta. É da índole deles fazer política como quem faz guerra, criando inimigos muitos, tratando-os como seres sórdidos que precisam ser parados a todo custo. E, claro, eles se colocam como os únicos capazes de parar os inimigos sórdidos por eles criados.

Entre os alvos favoritos desta guerra suja que movem, ininterrupta e sistematicamente, estão a educação e os educadores. Daí estes serem sempre acusados de aliciarem politicamente e perverterem sexualmente as crianças e os jovens. Com efeito, as insinuações/acusações de Márcia Bittar poderiam nos levar a crer que há coisas nas escolas que não seriam ofertadas sequer nas mais libertinas das casas de tolerância, como o incesto e a zoofilia. E, neste caso, os professores exerceriam um ofício mais repugnante que o de qualquer proxeneta.

Na base disso tudo, está implícito o suposto de que os professores seriam militantes disfarçados, esquerdistas-comunistas fazendo política albergados pelo ofício. Sem pretender fazer uma reflexão epistemológica, devo dizer que, de fato, nós educadores fazemos política. Impossível não fazê-lo. Afinal, através de disciplinas como Filosofia, Geografia, História e Sociologia, procuramos formar cidadãos, capacitando nossos estudantes para que, diante das instituições, dos temas e dos acontecimentos sociais, possam saber se orientar e se posicionar.

Neste preciso sentido, fazemos política, sim. Mesmo um professor de Matemática ou Física o faz, discuta ou não temas sociais em sala de aula, pois até o silenciar-se sobre tais temas é já uma maneira de educar politicamente os estudantes. Todo educador é também um político. Todavia, é mister acrescentar que não fazemos política partidária. Embora tenhamos uma margem de liberdade no trato dos temas, movemo-nos sempre premidos pelo que é ditado pela nossa área de atuação, como sua tradição, autores, métodos etc. Entre outras coisas, orienta-nos, ainda, o que é exigido dos estudantes em concursos e processos seletivos, como o Enem.  

A essa altura, compete dizer que, se é verdade que todo educador é um político, todo político é também um educador. Mesmo não tendo cargo, através de suas declarações, a senhora Márcia Bittar influencia a sociedade, orientando-a diante de certos temas. Por conseguinte, para o bem e para o mal, também ela é uma educadora. Mas os pontos em comum entre a práxis de educador e a de político não são tantos que possam apagar os pontos de diferença.

Nós, educadores, pautamo-nos pela verdade dos fatos. Zelosos que somos quanto a nosso fazer científico, procuramos guardar silêncio quanto ao que não sabemos ou, no máximo, emitimos parecer que não extrapole o âmbito da responsabilidade. Por outro lado, quando um político vai disputar eleições, se a mentira lhe garantir mais votos que a verdade, não é raro ele optar pela primeira.

Um exemplo para ilustrar mais palpavelmente a diferença entre ambos os ofícios discutidos. Sabemos quão danosos para a democracia são os políticos carreiristas que “vivem da política”, como diz Max Weber (um sociólogo conservador, só para frisar), que fazem dela um meio de vida; assim como são aqueles que criticam as políticas sociais e o funcionalismo público, mas costumam colocar parentes seus mamando nas tetas do Estado; os políticos forasteiros que moram em dado estado, mas procuram lançar candidaturas por outro, onde acham que é mais fácil sair vitorioso do pleito; políticos que têm o hábito de se meter em coisas nebulosas, como orçamentos secretos, por exemplo.

Ora, bem sabemos que há aos montes esse tipo de político (e sabemos quem são os “daqui” do Acre). Mas faríamos mal se disséssemos que todos os políticos são desse naipe. Não apenas estaríamos deixando de fazer ciência, como cairíamos na mais deslavada mentira, como fazem certas pessoas quando querem se aproveitar da boa vontade de certos setores da sociedade, aqueles que, em razão da vulnerabilidade, têm mais dificuldade de discernir o que verdadeiro do que é falso.   

Para finalizar, duas coisas mais. Primeiro: pode ser que algum docente, extrapolando seu ofício, faça política partidária em sala de aula - em todo lugar há bons e maus profissionais. Problemas dessa ou de outra natureza podem ser resolvidos na própria escola ou, se aí falhar, em órgãos fiscalizadores como o Ministério Público. Se a senhora Márcia Bittar tem provas daquilo que insinuou a respeito das escolas e dos professores, ela tem o dever de trazê-las a público e apresentá-las a essas autoridades.   

Por fim, em razão da complexidade e da relevância social, importa registrar que a educação é um daqueles temas de que só se pode falar e tratar com boca e mãos limpas. Não somos perfeitos. Temos nossas limitações. Por isso, se honesta, toda crítica é bem-vinda. Sempre. O mesmo não podemos dizer da insinuação baixa e abjeta. Nunca. Para usar a linguagem do educador popular, digamos de uma vez: “muito ajuda quem não atrapalha”.



[1] Professor e pesquisador do Instituto Federal do Acre/Campus Cruzeiro do Sul. Autor das seguintes obras: Democracia no Acre: notícias de uma ausência (PUBLIT, 2014); Desenvolvimentismo na Amazônia: a farsa fascinante, a tragédias facínora (EDIFAC, 2018) e A política da antipolítica no Brasil, Vol. I e II (EaC Editor, 2021). É coordenador do Grupo de Pesquisa Trabalho, Território e Política na Amazônia (TRATEPAM) e, atualmente, desenvolve o Projeto de Pesquisa Os dois Acres: disputas “ideodiscursivas” e identidade(s) nas mesorregiões acreanas. No campo da poesia, publicou o livro E a carne se fez verbo... (EaC Editor, 2020).  

sábado, 3 de julho de 2021

Apresentação do livro A política da antipolítica no Brasil (2 Volumes), recém-lançado

 Quem tiver interesse em adquirir na versão e-book, entrar contato com o autor: israelpolitica@gmail.com


APRESENTAÇÃO

 

            Como concebemos, a política da antipolítica é uma ação eminentemente política que, no entanto, não se assume como tal. Em tempos de crise como o que vivemos, em que a própria política e os que nela tomam parte são olhados com desconfiança e, não raro, com hostilidade, é algo compreensível. Trata-se de uma ação que simula caráter apolítico (antipolítico, impolítico ou contrapolítico) com o fito de dissimular seu caráter político.

Para usar versos de Lenine, podemos dizer que se trata de uma tentativa de “virar o jogo” e “transformar a perda” em “recompensa”[1]. De modo um tanto engenhoso, cumpre reconhecer, almeja-se transformar o descrédito da política em crédito político. No nível do aparente, a negação da política, sua desmoralização e aviltamento. Noutro nível, o mais efetivo das relações sociais, sua afirmação, com nada menos que um viés autoritário. Por um lado, a farsa. Por outro, a força. A política da antipolítica é um composto de ambas.

Dedicada a dar um contributo à compreensão do Brasil de nossos dias, a reflexão que segue está dividida em dois volumes, dos quais este é o primeiro. Neste Volume I, buscamos destacar mais a dimensão farsesca[2] da política da antipolítica. Através da abordagem de temas como o projeto Escola sem partido (ESP), o negacionismo e o racismo, o que fazemos é mostrar que a política está presente mesmo onde alguns a dizem ausente, destacando os interesses que subjazem ao pretenso apoliticismo e suas implicações.


Mas, já aqui, vai ficando clara sua dimensão policialesca (coercitiva, militarizada). Emblemático disso é, por exemplo, que Bolsonaro tenha perguntado a Ricardo Vélez - o primeiro Ministro da Educação em seu governo - se ele “teria faca nos dentes para combater a esquerda radical no Ministério?”, demonstrando cabalmente a natureza político-partidária e beligerante de seu apoliticismo.

Mesmo num microcosmos social, como é a escola, veremos que a política da antipolítica do atual governo assume formas altamente autocráticas, irracionais, reacionárias e com traços fortemente militarizados. E, mesmo quando se vale dos elementos e aparelhos diretivo-hegemônicos, dá a eles a marca da coerção e da beligerância. Seus intentos de aumentar o número de escolas civil-militares pelo país, em detrimento das escolas civis, é expressão disso. Seu consenso é dissensual.

No Volume II (A política da antipolítica: militarização e ameaças à democracia), voltamos nossa atenção para a dimensão policialesca do objeto de nossa reflexão. Nos passos de Gramsci, entendemos que toda política tem em si um substrato militar. Como o autor italiano, compreendemos que toda ordem, para ser mantida, necessita conjugar num relativo equilíbrio consenso e coerção (direção e dominação, hegemonia e ditadura).



Às vezes, contudo, quando os dominados despertam temor nos dominantes ou quando os interesses que estes acalentam não são atendidos a contento na atual configuração da ordem, o relativo equilíbrio é desfeito em detrimento dos mecanismos consensuais e em favor dos mecanismos coercitivos. Nestes casos, cabe mais proeminência a estes últimos.

É a proeminência dos mecanismos coercitivos que dizemos marcar a transição da política da militarização (onde a violência e a força são usadas cotidianamente, mas de modo pontual) para a militarização da política, radicalizando o estado de exceção a que estamos historicamente submetidos. Dada a escala crescente com que a violência é requerida atualmente nas relações sociais, a política vai assumindo paulatinamente feições de guerra. Parece mesmo que, nesse contexto de crescente violência, é a política que figura como uma continuação da guerra por outros meios.  

A situação em que nos encontramos é moldada pelo encontro e o mútuo fortalecimento de duas tendências de militarização. Uma mais geral e outra, nacional. Jogando por terra o pacto social representado pelo Estado de Bem-estar Social, o neoliberalismo, por si só, já implica a militarização das relações sociais, a substituição da política de conciliação de classes pela guerra de classes.

Ora, não é sem motivos que o Chile de Pinochet tenha se tornado o primeiro grande laboratório do neoliberalismo. Em perfeita sintonia com sua formação de “Chicago boy”, Paulo Guedes (ministro da Economia do governo Bolsonaro) dá provas da permanência dessa afinidade entre neoliberalismo e militarização e do vigor que ela goza em nosso meio. Foi ele quem disse, diante da possibilidade de protestos de oposição às (contra)reformas: “Não se assustem então se alguém pedir o AI-5.”

No Brasil, além da adoção da agenda de austeridade, confirmada com graus variados por governos de colorações partidárias as mais diversas, esta tendência mais geral de militarização é fortalecida pelo militarismo do atual governo federal. Daí, no Volume II, nossa atenção se voltar para a concepção e as práticas políticas dos militares, da Polícia Militar e do Exército. Maiormente alinhados ao atual governo, os militares jogam importante papel na atual conjuntura.

Amplamente formado por militares e sustentado por grupos entre conservadores e reacionários, o grupo político atualmente dominante pensa e pratica a política em chave bélico-militar, agregando um colorido verde-oliva à militarização da política e das relações sociais desencadeada pelo neoliberalismo. Em razão disso e diferentemente do que ocorreu em outros governos, agora a militarização não se dá apenas contra os de baixo. No momento, através de práticas legais e extralegais, ela ganha maior dimensão e dramaticidade, sendo exercida de modo escancarado contra adversários políticos, imprensa, organizações, formadores de opinião, intelectuais etc.

Apresentando-se “contra tudo o que está aí”, com nitidez ofuscante, o atual governo encarna e realça as dimensões farsesca e policialesca da política da antipolítica. As mentiras e as ameaças são igualmente armas suas[3]. Neste sentido, guardam profunda unidade frases de Bolsonaro como “Não existe racismo no Brasil” e “Se tudo dependesse de mim, não viveríamos neste regime” ou “Quem decide se um povo vai viver numa democracia ou numa ditadura são as suas Forças Armadas [...]. Se nós não reconhecermos o valor desses homens e mulheres que estão lá, tudo pode mudar”.

Antes de passar adiante, gostaríamos de chamar a atenção para um fator de grande importância. É verdade que há certa complementaridade entre a militarização do neoliberalismo e a do governo federal. Quanto menos social, mais policial é o Estado. Também é certo que o governo se coloca como servo da classe dominante. Mas nem tudo é harmonia entre eles. Em seu irracionalismo e trapalhadas, o governo enseja fricções muitas entre ele e algumas frações da classe dominante. Isso está bem claro para alguns, a exemplo do empresário que recentemente disse: “Entre Bolsonaro e o demônio, eu voto no demônio”[4].

Mesmo Paulo Guedes e Mourão já saíram em defesa da vacinação em massa como saída para a retomada das atividades econômicas, coisa a que Bolsonaro e os grupos mais fiéis a ele vêm se mostrando refratários. E se o mandatário continuar a insistir nesse e em outros arroubos e irracionalismos, como a experiência nos permite supor que continue, até quando a classe dominante quererá sustentá-lo na presidência? E caso queira tirá-lo de lá, como agirão os militares: deixá-lo-ão cair para que continuem no poder com Mourão ou tensionarão no sentido de um golpe desabrido, mandando pelos ares a ordem jurídico-constitucional?

Seja como for, fato é que, desde o fim da ditadura civil-militar, nossa frágil democracia nunca se viu tão ameaçada, com reais chances de supressão.

  Cada um dos Volumes deste livro é formado por artigos que, em seu conjunto, visam a compor um quadro da conjuntura política que ora atravessamos. Destes artigos, alguns já foram publicados. Outros - a maioria, para falar a verdade - são inéditos. Eles não estão distribuídos segundo a ordem cronológica em que foram escritos. Em verdade, estão ordenados segundo os temas que abordam e como um complementa e dá prosseguimento ao outro.

Concebida durante o período pandêmico e da quarenta que então se impôs, a presente obra traz explícita essa marca, fazendo referência a tal em passagens diversas, sempre de acordo com a reflexão realizada em cada texto. Acreditamos que é importante deixar esse registro dos dias que vivemos. Embora façamos assim, buscamos sempre tratar de casos ou problemas relativamente pontuais à luz de mais ampla compreensão, quer histórica, quer geográfica ou mesmo teórica. Por esse caminho, perseguimos o objetivo de evitar os extremos da generalização vazia e do empirismo tacanho, fechado em si mesmo.

Não fez parte de nossas intenções tratar os temas até exauri-los. Nem poderíamos. Quisemos, isto sim, apenas evidenciar alguns de seus traços e implicações, os que reputamos de maior relevância. Quanto a isso, exemplar é o texto referente ao negacionismo na e da pandemia (A “razão da desrazão” ou a ordem por sob o caos: notas sobre o negacionismo).

Com o processo pandêmico ainda em curso, sem perspectiva segura de quando terá termo, seria impossível tratar do tema ao longo de todo esse período. Assim, tocou-nos tão somente pôr em relevo, durante o período que a pesquisa cobriu, o que do fenômeno do negacionismo mais se impunha às relações sociais e, por conseguinte, à nossa atenção. Essa observação é válida para todos os textos aqui coligidos. Dessa maneira, tratamos da “história imediata”, na qual estamos imersos, olhando para além dela.

Mais uma observação. Ao longo da pesquisa, pudemos ver que a maior parte dos autores que falam da antipolítica de Bolsonaro o fazem a partir de certa visão institucionalista e/ou essencialista, como se fosse possível enclausurar a política em instituições e atribuir a ela apenas ações virtuosas. Para eles, Bolsonaro representa a antipolítica porque desrespeitoso e ameaçador às instituições, a suas regras. De nossa parte, ancorados numa visão realista (ampla e complexa) da política e dos conflitos que ao fim e ao cabo ela implica, entendemos que ela se faz por dentro e por fora das instituições, com elas, sem elas e mesmo contra elas. Atentar contra as instituições não é ato menos político do que submeter-se a elas.  

A bem da verdade, quanto mais levado a sério, mais pueril nos parece tal institucionalismo. Embora inegavelmente importantes, as instituições são nada mais que a coagulação da correlação de forças (entre classes e grupos) de dado momento, podendo, por isso, ruírem ou serem transformadas tão logo aquela correlação de forças sofra mudanças. Para dizer de modo simples e direto: elas não são sagradas nem eternas.

A esse respeito, é impossível ignorar a força e a verdade das palavras de Marx e Engels em A ideologia alemã: “A atitude do burguês para com as instituições de seu regime é como a atitude do judeu para com a lei; ele as transgride sempre que possível em cada caso particular, mas quer que todos os outros as observem” (MARX e ENGELS, 2007, p. 181)[5]. De maneira ainda mais acentuada, impossível ignorar que, sob o domínio do capital, “tudo o que é sólido desmancha no ar” (MARX e ENGELS, 2006, p. 88)[6], por sua dinâmica contínua de construção, destruição e reconstrução.

Dedico este livro a “Dona Jacira”, meu solo mátrio; a Maria Beatriz cujo sorriso luminoso dissipa qualquer desavisada penumbra; a Nayra Oliveira, “minha nega” de toda vida; a todos os profissionais de saúde que, com verdadeiro compromisso em favor da vida, se colocaram na linha de frente do combate à Covi-19; a todos os sonhadores que inspiram e, tijolo por tijolo, com fé e luta vão pavimentando caminhos e dando realidade a um mundo de paz, justiça e liberdade.    

Por fim, cabe-me apenas dizer: sou filho do meu tempo e deste chão em que firmo os pés e deito raízes. Daqui, de uma localidade triplamente periférica[7], falo do Brasil para o Brasil. A ciência não se me afigura como instrumento de fuga da realidade social. Muito ao contrário. É através dela que procuro compreender e tomar parte nos conflitos sociais que a conformam. Escrever na primeira pessoa do plural[8] é, a um só tempo, uma opção gramatical, epistêmica e política. Julgo que não poderia fazer coisa diferente neste momento em que a luta de classes e grupos vai assumindo, paulatinamente, feições de guerra e por isso funde-se, de maneira dramática, à defesa da própria vida.

 Israel Souza

07/03/2021



[1] Os versos são da canção É o que me interessa, composição de Lenine e Dudu falcão.

[2] A dimensão farsesca da antipolítica diz respeito ao aspecto ideológico do fenômeno. Como tal, de modo nenhum, ela exclui a existência de convicções sinceras entre bolsonaristas. Não fosse assim, seria difícil explicar o fato de uns tantos entre eles, desrespeitando as regras de isolamento social, se exporem ao novo coronavírus. Como informam os meios de comunicação, muitos foram a óbito. Isso é mais que farsa e ignorância. Há convicções sinceras nesse meio. 

[3] Enquanto escrevemos estas palavras, a página de Aos fatos destaca que, em 794 dias como presidente, Bolsonaro deu 2547 declarações falsas ou distorcidas. São mais de 3 por dia. Disponível em: https://www.aosfatos.org/todas-as-declara%C3%A7%C3%B5es-de-bolsonaro/. Acesso em: 05 fev. 2021. A referida página faz esse levantamento diariamente.

[5] MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.

[6] MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São: Global, 2006.

[7] Moro em Cruzeiro do Sul, periferia do estado do Acre, que é periferia da Amazônia, que é, por sua vez, periferia do Brasil.

[8] Com a única exceção destes parágrafos últimos.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

ACORDAR PARA E CONTRA O FASCISMO


Israel Souza[1]
           
            Para as forças democráticas, a última semana de maio foi um marco. Confirmando uma série de outras, pesquisa Datafolha mostrou um Bolsonaro desidratado: apoio menor, rejeição maior. Ademais, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, o inquérito das fake news atingiu em cheio uma de suas mais importantes bases de apoio, e isso sem nem mesmo ter chegado ao fim. Os estragos deste inquérito são de uma potencialidade extraordinária, explosiva mesmo, já que envolve financiadores privados (empresários), políticos e operacionalizadores.
Vê-se, assim, que não foi sem razão que, mais uma vez, Eduardo Bolsonaro falou em ruptura com a ordem democrática. Em parte isso é blefe ou, no mínimo, um desejo extravagante. Sabemos que algo assim não é unanimidade entre as forças armadas. Em parte, porém, é estratégia política cujo intento é duplo. Por um lado, pretendem amedrontar os adversários. Por outro, inflamam sua base de apoio minguante mas radicalizada.
Parte dessa estratégia pode ser observada nos símbolos usados nesses últimos dias. Em transmissões ao vivo pelas redes sociais, Bolsonaro, membros do governo e alguns de seus apoiadores tomaram leite, um gesto símbolo dos nazistas e de sua ideologia ariana. De sua parte, Sara Winter, líder dos “300” e uma das implicadas no inquérito das fake news, liderou um ato em que os participantes usavam máscaras e levavam tochas, numa estética toda referenciada em movimentos supremacistas da Ku Klux Klan (KKK) e dos nazistas.
Alguém pode dizer que tudo isso é apenas uma forma de confundir e chamar a atenção. Concordamos, em parte. Acrescentamos, porém, que havia muitas outras formas de chamar a atenção e confundir. Essas não foram escolhidas ao acaso. O fato de, a mando de Bolsonaro, o ministro da justiça ter entrado com habeas corpus para proteger Sara Winter de possível prisão corrobora nosso ponto de vista e revela o quanto o governo se sente representado nesse tipo de manifestação e ideologia.   
Com efeito, ao observador relativamente informado sobre o fascismo, sua retórica e símbolos, muito antes disso, o caráter fascista do atual governo já era certo. Para esses observadores (entre os quais, está este escriba), então, o que ocorre agora não é uma virada, mas tão somente as explicitação e radicalização de traços já perceptíveis desde o início.
Para infelicidade do governo e de seus apoiadores, a resistência começa a ganhar relevante nível de consistência e organização, como ainda não havia alcançado até aqui. Prova disso são, por exemplo, os movimentos Somos 70% e Somos Democracia. Digna de nota nesse cenário foi a atuação das torcidas organizadas que colocaram na pauta a defesa da democracia e a luta antifascista, com uma contundência e habilidade que a oposição partidária-parlamentar não conseguira.
Em primeiro lugar, cumpre destacar que, até aqui, apenas os apoiadores do governo vinham se manifestando nas ruas. Este foi o segundo final de semana consecutivo que as torcidas ganharam as ruas e o fizeram em maior quantidade que os apoiadores de Bolsonaro. Em segundo lugar, as manifestações das torcidas se dão em defesa da democracia, e não em defesa de algum líder ou partido. Isso permite a confluência de forças bastante diversas entre si, a exemplo das próprias torcidas de times historicamente rivais.
Em terceiro lugar, esse movimento se coloca, não só em defesa da democracia, mas também contra o fascismo, definindo-se como um movimento antifascista. Eis algo que não poderemos subestimar. Foi da soma dos movimentos Somos 70% e Somos Democracia que surgiu o Somos 70% Antifascistas que, logo imediatamente, resultou em outros tantos movimentos, como Historiadores Antifascistas, Professores e Professoras Antifascistas, Assistentes Sociais Antifascistas, Advogados Antifascistas, Jornalistas Antifascistas e etc. Categorias e grupos vários reverberam assim suas insatisfações.
Em quarto lugar, ao lado das manifestações do governo e seus apoiadores, esse movimento forçou a imprensa a, enfim, tratar de maneira clara e com certa seriedade o tema do fascismo. Por seu turno, o ministro Celso de Melo comparou o Brasil de hoje com a Alemanha de Hitler. No Parlamento, no Judiciário, na imprensa, nas ruas, nas redes sociais. O fascismo se tornou tema incontornável para compreender histórica, política e sociologicamente o Brasil de hoje.  
Antes, definir Bolsonaro e seus apoiadores como fascistas era entendido, maiormente, apenas como uma maneira pejorativa de tratá-los, algo como um xingamento, coisa descabida, extemporânea. Alguns até faziam troça, emendando, após o “fascista”, palavras como “ciclista”, “taxista”, “motorista” e por aí vai. Poucos entendiam o perigo. Todavia, agora, muitos se dão conta de quão pertinente e acertado é o tratamento.
Entre as muitas coisas que isso permite inferir, está a de que, entre os 70%, muitos acordaram para o fascismo, reconhecendo o perigo real que ele representa. Contudo, resta ainda acordarem (no duplo sentido de despertar e de fazer acordo) contra o fascismo. Mesmo com todas as divergências presentes no seio desses 70%, é importante conseguirmos atuar organizada e organicamente, de um modo tal que consigamos reconquistar, nas ruas como nas redes, cada palmo perdido para o fascismo.
Sendo, numericamente, maiores, falta-nos ainda ser os melhores, atentando sempre para o que diz Mariátegui a esse respeito: “Os melhores prevalecem quando sabem ser verdadeiramente os melhores”.
             


[1] Cientista Social e Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Acre. Autor dos livros Democracia no Acre: notícias de uma ausência (PUBLIT, 2014), Desenvolvimentismo na Amazônia: a farsa fascinante, a tragédia facínora (EDIFAC, 2018) e E a carne se fez verbo... (EAC Editor, 2020). Atualmente é professor e pesquisador do Instituto Federal do Acre/Campus Cruzeiro do Sul, onde coordena o Grupo de Pesquisa Trabalho, Território e Política na Amazônia (TRATEPAM).

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Xapuri declaration: Chico Mendes in the standoff against the false solutions of green capitalism


From here in Xapuri, we remind the world that Chico Mendes did not die. He was assassinated. This was the price he paid for dedicating his life to the cause of agrarian land reform and the protection of forests. The fact is that those in power never accepted that the peoples of the forest have a right to land, bread and dreams. They thought that murdering him would bury his struggle. But for that it was too late. Chico Mendes had become a force that surpasses his physical existence.
Since his assassination, his legacy has grown in importance. Conscious of the importance of this legacy and fearful of its liberating power, those in power threw themselves at the task of appropriating his legacy through a continuous and systematic process of distortion. This is what the government of the so-called “Popular Front of Acre” (FPA) has done over the course of the last 20 years. Serving the interests of international capital, they imposed, using and abusing the image of Chico Mendes, a set of policies which resulted in an increase in privatisation and the destruction of forests.
From the extraction of timber, to the exploration of petrol and gas in the Vale do Juruá region of Acre and extensive cattle raising, they opened the door for Reducing Emissions from Deforestation and forest Degradation – REDD projects and other Payment for Environmental Services – PSA initiatives. These policies represent, in all aspects, a full negation of what the rubber tapper leader defended, consider that they privatize the forest, violate the rights of the peoples of the forest and treat them like criminals. In this process, Chico Mendes was disfigured and, in a certain sense, killed several times over as he was turned into a defender of the very capitalism that killed him, turning him into the opposite of what he was.
Lamentably, what we see today in Acre is the attempt to transform into goods the land and territories which are sacred for the original peoples and which furthermore, are the source of subsistence for all inhabitants of the forest. Against this backdrop, we have seen criminalization grow in our midst over the past years, criminalization of ancestral practises of communities as well as any form of resistance to the capitalist appropriation of nature. 
True to Chico Mendes' legacy of struggles, we denounce these murderous projects and those who defend them. Based on our painful experiences, we affirm to the world that proposals like "sustainable development" and "green economy" are a mere farce ad tragedy. They are a farce because they do not protect nature as they claim. They are a tragedy because they do exactly the opposite. And we know the reason. There is no way out in capitalism, in any of its forms and colors. One cannot take care of life with a system that kills.
We denounce this farce and demand: the immediate suspension of all commercial logging projects and all environmental and climate compensation policies that have been grown out of the false solutions of green capitalism; the demarcation of all territories of indigenous peoples and an agrarian reform rooted in popular sovereignty.
For the Amazon, for agrarian reform, for the demarcation of indigenous peoples' territories; against green capitalism and capitalism in any other color, whether it's pushed forward by so-called leftist or admittedly fascist governments!

Chico Mendes lives. The struggle continues.

Xapuri, December 16th, 2018.

Sign this statement:

• Grupo de Pesquisa Trabalho, Território e Política na Amazônia (TRATEPAM)
• Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia
Ocidental (NUPESDAO)
• Grupo de Pesquisa e Extensão em Educação Ambiental e desenvolvimento
sustentável (Gpeeads)
• Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM)
• Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi de Boca do Acre e
Amazonas (OPIAJBAM)
• Movimento dos Pequenos Agricultores de Rondônia (MPA)
• Via Campesina
• Amigos da Terra – Brasil
• Centro Acadêmico de Ciências Sociais da Ufac (CACS)
• Movimento Esquerda Socialista – PSOL
• Coletivo Juntos – Acre
• Federação do Povo Huni Kui do Acre (FEPAHC)
• Fórum de Mudanças Climáticas
• Equipe Itinerante • Centro Shuar Kupiamais (Equador)
• Conselho Indigenista Missionário (CIMI)


DECLARIÓN DE XAPURI: CHICO MENDES EN EL EMPATE CONTRA LAS FARSAS SOLUCIONES DEL CAPITALISMO VERDE

Desde de Xapuri, afirmamos al mundo que Chico Mendes no murio: fue asesinado. Este fue el précio que el tuvo que pagar por dedicar su vida a la causa por la reforma agraria y la protección de la floresta, ya que los dominantes nunca aceptaron que los pueblos de la floresta tuviera derecho a la tierra, al pan y al suenho. Imaginaron que assassinandolo, enterraria su lucha. Pero ya era demasiado tarde. Chico havia se transformado en una fuerza que traspaso su existência física.
Desde su asesinato, su memoria crescio en importância. Conscientes de esto y con el miedo de su poder libertário, los de arriba se lanzaron en la tarea de apropiarse de ella através de un continúo y sistemático processo de distorción. Esso fue lo que los governantes del Frente Popular del Acre(FPA) hicieron al largo de los últimos 20 años: sirviendo a los interés del capital internacional, inponiendo, usando y abusando de la imagéne de Chico Mendes, un conjunto de políticas cuyo resultado fue el crescimento de las privatizaciones y de la destrución de la floresta.
Iendo de la exploración florestal maderera, del gás y petróleo em el Vale del Jaruá, y la mineración, de passo por la pecuária extensiva de corte e abriendo las puertas para los proyectos de Redución de Emisión por Desmatamiento y Degradación Florestal-REDD y otras formas de Pagamentos para servicíos Ambientales-PSA, essas políticas representan, en todo, la mas absoluta negación de aquello que el líder cauchero defendio, pues privatizan las florestas, violan los derechos de los pueblos de la floresta y los trantan
como criminosos.
Y en todo ese processo desconfiguran y, en un certo sentido, asesinan a Chico Mendes, una y outras vez mas, haciendo de el un defensor del mismo capitalismo que lo assassino, o sea haciendo de el lo contrário de lo que el fue. Lamentablemente, lo que vemos hoy en el estado de Acre es la tentaiva de transformar en mercancia las tierras y territórios que son sagrados para los pueblos originários y que, ademas de eso, son las bases de subsistência de todos los habitantes de la floresta.
Por eso es que, en los últimos años, vimos crescer en nuestro médio la criminalización tanto de las praticas ancestrales de las comunidades locales, como de toda forma de resistência á la apropiación capitalista de la naturaleza. Fieles al legado de luchas de Chico Mendes, denunciamos estos proyectos asesinos y aquellos que los defienden. Com base en nuestra dolorosa experiências, afirmamos al mundo que propuestas como “desenvolvimiento sustentable” y “Economia verde” no pasan de farsa y trágedia.
Son farsa porque no protegen la naturaleza como dice. Son tragédia porque hacen exatamente al contrário de eso. Y nosotros sabemos la razón: no há salida en el capitalismo, o sea en qualquer una de sus formas, o em qualquer de sus colores. No puede cuidar de la vida um sistema asesino. Denunciamos esta farsa y exigimos la suspencion imediata de todos los proyectos de exploracón florestal maderera y de todas las politicas de compensación ambiental y climáticas que derivan de farsas soluciones del capitalismo verde, la demarcación de todas las tierras de los pueblos indígenas, y una reforma agraria con soberania popular.
Por la Amazonia, por la reforma agraria, por la demarcación de las tierras indígenas y contra el capitalismo verde y de todos los colores, sea conduzido por gobiernos dichos de esquerda o por gobiernos assumidamente facistas!

Chico Mendes vive, la lucha sigue.

Xapuri 16 de Diciembre de 2018.

Firman esta declaración:

• Grupo de Pesquisa Trabalho, Território e Política na Amazônia (TRATEPAM)
• Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia 
Ocidental (NUPESDAO)
• Grupo de Pesquisa e Extensão em Educação Ambiental e desenvolvimento 
sustentável (Gpeeads)
• Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais (WRM)
• Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi de Boca do Acre e 
Amazonas (OPIAJBAM))
• Movimento dos Pequenos Agricultores de Rondônia (MPA)
• Via Campesina
• Amigos da Terra – Brasil
• Centro Acadêmico de Ciências Sociais da Ufac (CACS)
• Movimento Esquerda Socialista – PSOL
• Coletivo Juntos – Acre
• Federação do Povo Huni Kui do Acre (FEPAHC)
• Fórum de Mudanças Climáticas
• Equipe Itinerante • Centro Shuar Kupiamais (Equador)
• Conselho Indigenista Missionário – Cimi

DECLARAÇÃO DE XAPURI: CHICO MENDES NO EMPATE CONTRA AS FALSAS SOLUÇÕES DO CAPITALISMO VERDE

Daqui de Xapuri, afirmamos ao mundo que Chico Mendes não morreu: foi assassinado. Esse foi o preço que ele pagou por dedicar sua vida à causa da reforma agrária e da proteção da floresta, já que os dominantes nunca aceitaram que os povos da floresta tivessem direito à terra, ao pão e ao sonho. Acharam que assassinando-o, enterrariam sua luta. Mas, já era tarde. Chico havia se transformado numa força que ultrapassou sua existência física.

Desde seu assassinato, sua memória cresceu em importância. Conscientes disso e com medo de seu poder libertário, os de cima se lançaram na tarefa de se apropriar dela através de um contínuo e sistemático processo de distorção.

Isso foi o que os governos da Frente Popular do Acre (FPA) fizeram ao longo dos últimos 20 anos: servindo aos interesses do capital internacional, impuseram, usando e abusando da imagem de Chico Mendes, um conjunto de políticas cujo resultado foi o aumento da privatização e da destruição da floresta.

Indo da exploração florestal madeireira, de gás e petróleo no Vale do Juruá, e da mineração, passando pela pecuária extensiva de corte e abrindo as portas para os projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal - REDD e outras formas de Pagamentos para Serviços Ambientais – PSA, essas políticas representam, em tudo, a mais absoluta negação daquilo que o líder seringueiro defendeu, pois privatizam as florestas, violam os direitos dos povos da floresta e os tratam como criminosos.

Em todo esse processo desfiguram e, num certo sentido, assassinam Chico Mendes, uma e outras vezes mais, fazendo dele um defensor do mesmo capitalismo que o assassinou, ou seja, fazendo dele o contrário do que ele foi.
Lamentavelmente, o que vemos hoje no Acre é a tentativa de transformar em mercadoria terras e territórios que são sagrados para os povos originários e que, além disso, são a base de subsistência de todos os habitantes da floresta.

Por isso é que, nos últimos anos, vimos crescer em nosso meio a criminalização tanto de práticas ancestrais das comunidades locais, como de toda forma de resistência à apropriação capitalista da natureza.

Fiéis ao legado de lutas de Chico Mendes, denunciamos esses projetos assassinos e aqueles que os defendem. Com base em nossas dolorosas experiências, afirmamos ao mundo que propostas como “desenvolvimento sustentável” e “economia verde” não passam de farsa e tragédia.

São farsa porque não protegem a natureza como dizem. São uma tragédia porque fazem exatamente o contrário disso. E nós sabemos a razão: não há saída no capitalismo, seja em qualquer uma de suas formas, ou com qualquer uma de suas cores. Não pode cuidar da vida um sistema assassino.   

Denunciamos essa farsa e exigimos a suspensão imediata de todos os projetos de exploração florestal madeireira e de todas as políticas de compensação ambiental e climáticas derivadas das falsas soluções do capitalismo verde, a demarcação de todas as terras dos povos indígenas, e uma reforma agrária com soberania popular.  
 
Pela Amazônia, pela reforma agrária, pela demarcação das terras indígenas e contra o capitalismo verde e de todas as outras cores, seja conduzido por governos ditos de esquerda ou por governos assumidamente fascistas!


Chico Mendes vive. A luta segue.


Xapuri, 16 de dezembro de 2018