terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Mais capitalismo Verde. Um balanço da Cúpula do Clima, em Durban

Josep Maria Antentas y Esther Vivas
Josep: professor de sociologia da Univ. Autónoma de Barcelona. Esther: membro do Centro de Estudos sobre Mov. Sociais (CEMS)-Universidad Pompeu Fabra. Ambos militam em Izquierda Anticapitalista e em Revolta Global Esquerra Anticapitalista
Tradução: ADITAL
Salva-se aos mercados e não ao clima. Dessa forma, poderíamos resumir o que constata a recém concluída 17ª Conferência das Partes (COP17) das Nações Unidas sobre Mudança Climática, em Durban, África do Sul, celebrada de 28 de novembro e 10 de dezembro de 2011. A rápida resposta que governos e instituições internacionais deram à crise econômica em 2008, resgatando bancos privados com dinheiro público contrasta com o imobilismo ante a mudança climática. Apesar de que isso não nos deveria surpreender. Tanto em um caso, quanto no outro, ganham os mesmos: os mercados e seus governos cúmplices.
Na Cúpula do Clima de Durban, foram dois os temas centrais: o futuro do Protocolo de Kyoto, que será concluído em 2012, e a capacidade para estabelecer mecanismos na redução de emissões; e a execução do Fundo Verde para o Clima, aprovado na Cúpula anterior, em Cancún, com o objetivo teórico de apoiar aos países pobres na mitigação e na adaptação à mudança climática.
Após Durban, podemos afirmar que um segundo período do Protocolo de Kyoto ficou vazio de conteúdo: se transfere uma ação real para 2020 e se rechaça qualquer tipo de instrumento que obrigue à redução de emissões. Assim quiseram os representantes dos países mais contaminantes com os Estados Unidos à cabeça, advogando por um acordo de reduções voluntárias e rechaçando qualquer tipo de mecanismo vinculante. Porém, se o protocolo de Kyoto já era insuficiente e, se aplicado, evitava somente 0,1ºC de aquecimento global, agora vamos de mal a pior.
Em torno ao Fundo Verde para o Clima, se em um primeiro momento os países ricos se comprometeram a contribuir com 30 bilhões de dólares em 2012 e 100 bilhões anuais para 2020, cifras que, de toda forma, são consideradas insuficientes, a procedência desses fundos públicos ficou por ser determinada enquanto abrem as portas ao investimento privado e à gestão do Banco Mundial. Como algumas organizações sociais assinalaram, trata-se de uma estratégia para "converter o Fundo Verde para o Clima em um Fundo Empresarial Cobiçoso”. Uma vez mais se pretende fazer negócio com o clima e com a contaminação do meio ambiente.
Outro exemplo dessa mercantilização do clima tem sido o aval da ONU à captura e armazenamento de CO2 como Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que não pretende reduzir as emissões e que aprofundaria a crise ambiental, especialmente nos países do Sul, candidatos a futuros cemitérios de CO2.
Assim, os resultados da Cúpula apontam a mais capitalismo verde. Como indicava o ativista e intelectual sul-africano Patrick Bond: "A tendência a mercantilizar a natureza converteu-se no ponto de vista filosófico dominante na governança mundial do meio ambiente”. Em Durban, repete-se o roteiro de Cúpulas anteriores, como a de Cancún 2010, Copenhague 2009..., onde os interesses das grandes multinacionais, das instituições internacionais e das elites financeiras, tanto do Norte quanto do Sul se antepõem às necessidades coletivas dos povos e ao futuro do planeta.
Em Durban estava em jogo nosso futuro; porém, também nosso presente. Os estragos causados pela mudança climática já estão dando seus efeitos: liberação de milhões de toneladas de metano do Ártico, um gás 20 vezes mais potente do que o CO2 desde o ponto de vista do aquecimento atmosférico; derretimento dos glaciares e das mantas de gelo que aumenta o nível do mar. São efeitos que incrementam o número de migrações forçadas. Se em 1995 havia ao redor de 25 milhões de migrnates climáticos, hoje essa cifra dobrou para 50 milhões, e em 2050 poderia ascender a entre 200 milhões e um bilhão de desalojados.
Tudo indica que caminhamos rumo ao aquecimento global descontrolado superior aos 2ºC e que poderia rondar os 4ºC no final do século, o que, provavelmente, segundo os cientistas, desencadearia impactos não manejáveis, como a subida de vários metros do nível do mar. Não podemos esperar até 2020 para começar a tomar medidas reais.
Porém, frente à falta de vontade política para acabar com a mudança climática, as resistências não calam. E emulando a Occupy Wall Street e a onda de indignação que percorre a Europa e o mundo, vários ativistas e movimentos sociais encontram-se diariamente em um fórum a poucos metros do centro de convenções oficiais, sob o lema "Occupy COP17”. Esse ponto de encontro tem reunido desde mulheres camponesas que lutam por seus direitos até representantes oficiais de pequenos Estados insulares, como As Seychelles, Granada ou Nauru, ameaçados pela subida iminente do nível do mar, passando por ativistas contra a dívida externa que reclamam o reconhecimento e a restituição de uma dívida ecológica do Norte com relação ao Sul.
O movimento pela justiça climática assinala como, frente à mercantilização da natureza e dos bens comuns, é necessário antepor nossas vidas e o planeta. O capitalismo tem se mostrado incapaz de dar resposta ao caminho sem saída para o qual a sua lógica produtivista, de curto prazo e depredadora nos conduziu. Se não queremos que o clima mude, temos que mudar radicalmente esse sistema. Porém, os resultados de Durban apontam em outra direção. O reconhecido ativista ecologista nigeriano Nnimmo Bassey deixou tudo bem claro com essas palavras: "Essa Cúpula ampliou o apartheid climático, onde o 1% mais rico do mundo decidiu que é aceitável sacrificar os 99% restantes”
Fonte: Adital

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