Israel Souza[1]
Enfim, a FPA escolheu um vice para compor chapa com Marcos Alexandre (PT) nas eleições municipais que se avizinham. É Márcio Batista (PC do B). Com a escolha, a coalizão que governa o estado há mais de uma década formou uma chapa jovem, bem apessoada. Isso pode significar um atrativo para os jovens, e, aos de mais idade, poderá parecer um sinal de renovação.
Conquanto traga, inegavelmente, peso positivo à chapa da FPA, o vice escolhido traz também pesos negativos.
De origem humilde, Márcio Batista militou no movimento estudantil, sindical e artístico-musical[2]. Como vereador (2005-2008), foi líder do prefeito Raimundo Angelim (PT) na Câmara Municipal de Rio Branco. Saiu-se bem, mesmo tendo que lidar com uma bancada de sustentação que, muitas vezes, era mais difícil que a oposição.
Com essas credenciais, Márcio Batista confere uma legitimidade e uma qualidade que faltavam à candidatura de Marcos Alexandre. E se este, e não aquele, é o candidato a prefeito, isto se deve à correlação de forças entre PC do B e PT e não a méritos individuais.
A escolha de tal vice é claramente voltada para diminuir as insatisfações do PC do B, ainda por causa da retirada da pré-candidatura de Perpétua (PC do B). Mas há outros fatores que também influenciaram nessa direção.
Fiel à coalizão de que faz parte, Márcio Batista, quando discorda, o faz nos bastidores e deixa, com isso, de dar publicidade a suas próprias ideias. Embora também fiel à FPA, Perpétua, quando discorda, o faz abertamente, pelo menos em alguns pontos, e disso tira bom proveito. Nesse sentido, para a cúpula da FPA, é mais fácil trabalhar com Márcio Batista, sujeito de espírito mais “dócil”.
O atual vice de Marcos Alexandre já pagou alto preço por essa fidelidade. Ao ter assumido a função de líder do prefeito no parlamento mirim, Márcio Batista assumiu também, sob alguns aspectos, postura conservadora. Isso prejudicou sua aceitação em certos setores da população e, ao lado do pouco - ou nenhum? - apoio que recebera de seu partido e da FPA em geral, foi decisivo para que ele não conseguisse ser reeleito.
Sem mandato, acabou por ser salvo em uma secretaria, onde suscitou novas antipatias sem ter conseguido enterrar as antigas. Borrou a boa imagem - não poucos o entendiam assim - de alguém que vinha renovar a política no Acre.
Há mais. Márcio Batista e Marcos Alexandre (não parece nome de dupla sertaneja?) são, quase, uma união de contrários e de limites. Este é candidato da cúpula do PT e não da militância. Aquele, ao contrário, vem das bases militantes. Sua relação com a cúpula do PC do B não é das melhores.
O nome de Márcio Batista encontra resistência em certos estratos do PT, como o nome de Marcos Alexandre nas bases do PC do B. No caso de Márcio Batista, a resistência se deve às conhecidas diferenças existentes entre os dois partidos, sobretudo nos estratos militantes. No caso de Marcos Alexandre, além disso, conta o fato de sua candidatura ter se afirmado em detrimento da de Perpétua. Convidar Márcio Batista para vice é insuficiente para apagar as ranhuras do episódio.
Por isso, é possível dizer que ambos os partidos entrarão parcialmente nesta campanha. Sairão às ruas? Sairão, mas sem convicção, sem o espírito de guerra e de entrega. Pouco ou nada convencem os não-convencidos.
Como temos discutido em textos anteriores, os tempos são difíceis para a FPA. Em consequência, ela tem atuado mais conservadora e autoritariamente. Escolhidos por seu “perfil dócil” e para mudar a fachada e não a maneira de se usar o poder na FPA, Marcos Alexandre e Márcio Batista terão, por força de tais circunstâncias, uma margem de liberdade - se é que terão alguma - demasiado pequena. Serão, quase, “candidatos biônicos”.
Em razão disso, caso ganhem, talvez Márcio Batista seja mais um daqueles de quem se ouve falar amiúde de que, “em algum momento, perdeu o rumo. A esperança, ainda jovem, deu em nada”. Sobre Marcos Alexandre, por ora, guardamos silêncio.
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