quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Menos que gente: a condição de abandono dos haitianos no Acre


Israel Souza[1]

            Após o grande terremoto que atingiu seu país em 2010, muitos haitianos, fugindo da miséria e do cólera, abandonaram sua terra natal e se aventuraram em terras outras. Atraídos pela esperança de prosperidade, proclamada aos quatro ventos pelo governo brasileiro, muitos deles aportaram por aqui.

            Estado de fronteira, o Acre tornou-se uma das portas de entrada para muitos desses sujeitos. Chegando aqui, porém, o que encontraram foi muita miséria e abandono. A situação em que se encontram na terra de Chico Mendes é degradante, subumana.

            No momento, a dona da casa em que residem ameaça deixar-lhes sem teto. É que já faz mais de 8 meses o governo estadual acreano deixou de pagar o aluguel. Também já somam alguns meses que o mesmo governo deixou de pagar a conta de energia.

            Entregues à própria sorte. Assim os haitianos nestas paragens. São mais de 300 numa casa com apenas 1 banheiro. Entre eles, há recém-nascidos.  As condições de higiene são precárias, quase inexistentes. Alguns deles estão cozinhando improvisadamente nos quartos - quando há o que cozinhar. É comum uns tantos passarem fome ali, ficando mais de 1 dia sem comer. Vez em quando se viram comendo manga, fruta da estação.
 
 
 
 
 
 


           
          Forçados pelas condições, alguns estão usando de criatividade e coragem para dormir. Sem quartos para todos, uns têm feito sua “cama” do lado de fora da casa. Como se pode vê nas fotos, trata-se de uma pequena “cobertura”, pouco menos de um metro, feita com faixas, que cobre o chão coberto de papelão. Mas se vier chover e no Acre estamos em período de chuva...
 
 

            Um dos haitianos nos dizia que o que muitos querem ali não é tanto a caridade dos outros ou do governo. Eles anseiam mesmo é pelo CPF. Dizia que muitos têm parentes aqui no Brasil. Que se tirarem o CPF poderão ir para a casa de seus parentes e procurar trabalho. É patente a falta de vontade política de resolver ou minorar a situação destes homens e mulheres.

O governo estadual acreano e o federal, em regra, têm lhes dispensado a mais pura indiferença. Em tom ufanista, tais governos não se cansam de falar em crescimento econômico, redução da pobreza e da miséria, desenvolvimento sustentável, integração etc. Aqui em nossa terra, porém, os haitianos não foram acolhidos senão pelo abandono. Aviltados, encontram-se reduzidos a menos que gente. 



[1] Cientista Político e Membro do Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental (NUPESDAO). Email: israelpolitica@gmail.com

Um comentário:

Mirza Costa disse...

É angustiante vê-los nas condições em que se encontram. O governo acreano tem ajudado de fato o governo nacional a fazer a tarefa de casa no que se trata de cativar sua cadeira na ONU. rs...
A casa em que alojaram, sim, alojaram de alojamento de reclusão, os haitianos é um depósito de gente! Depósito de sonhos, esperança, saudade... enfim, é muita, muita humilhação.