Após
o grande terremoto que atingiu seu país em 2010, muitos haitianos, fugindo da
miséria e do cólera, abandonaram sua terra natal e se aventuraram em terras
outras. Atraídos pela esperança de prosperidade, proclamada aos quatro ventos
pelo governo brasileiro, muitos deles aportaram por aqui.
Estado
de fronteira, o Acre tornou-se uma das portas de entrada para muitos desses
sujeitos. Chegando aqui, porém, o que encontraram foi muita miséria e abandono.
A situação em que se encontram na terra de Chico Mendes é degradante, subumana.
No
momento, a dona da casa em que residem ameaça deixar-lhes sem teto. É que já
faz mais de 8 meses o governo estadual acreano deixou de pagar o aluguel.
Também já somam alguns meses que o mesmo governo deixou de pagar a conta de
energia.
Entregues
à própria sorte. Assim os haitianos nestas paragens. São mais de 300 numa
casa com apenas 1 banheiro. Entre eles, há recém-nascidos. As condições de higiene são precárias, quase inexistentes.
Alguns deles estão cozinhando improvisadamente nos quartos - quando há o que
cozinhar. É comum uns tantos passarem fome ali, ficando mais de 1 dia sem
comer. Vez em quando se viram comendo manga, fruta da estação.
Forçados pelas condições, alguns estão
usando de criatividade e coragem para dormir. Sem quartos para todos, uns têm
feito sua “cama” do lado de fora da casa. Como se pode vê nas fotos, trata-se de
uma pequena “cobertura”, pouco menos de um metro, feita com faixas, que cobre o
chão coberto de papelão. Mas se vier chover e no Acre estamos em período de
chuva...
Um
dos haitianos nos dizia que o que muitos querem ali não é tanto a caridade dos
outros ou do governo. Eles anseiam mesmo é pelo CPF. Dizia que muitos têm
parentes aqui no Brasil. Que se tirarem o CPF poderão ir para a casa de seus
parentes e procurar trabalho. É patente a falta de vontade política de resolver
ou minorar a situação destes homens e mulheres.
O governo estadual acreano e
o federal, em regra, têm lhes dispensado a mais pura indiferença. Em tom
ufanista, tais governos não se cansam de falar em crescimento econômico,
redução da pobreza e da miséria, desenvolvimento sustentável, integração etc.
Aqui em nossa terra, porém, os haitianos não foram acolhidos senão pelo
abandono. Aviltados, encontram-se reduzidos a menos que gente.
[1]
Cientista Político e Membro do Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento
na Amazônia Ocidental (NUPESDAO). Email: israelpolitica@gmail.com
Um comentário:
É angustiante vê-los nas condições em que se encontram. O governo acreano tem ajudado de fato o governo nacional a fazer a tarefa de casa no que se trata de cativar sua cadeira na ONU. rs...
A casa em que alojaram, sim, alojaram de alojamento de reclusão, os haitianos é um depósito de gente! Depósito de sonhos, esperança, saudade... enfim, é muita, muita humilhação.
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