Situação
delicada, a de Jorge Viana. A princípio se nega a apoiar Marina na criação de
seu novo partido: Rede Sustentabilidade. Depois, recua e resolve dar o apoio
antes negado. Justificou a mudança de posição - que Antônio Alves, mesmo sendo crítico
ao PT local, chamou de “brilhante e convincente” - argumentando que considerava
a Rede “um movimento legítimo de uma parcela importante da sociedade” (ver Meu nome é Ma).
Alguns
entenderam a mudança de postura de Jorge Viana como sinal de coerência na
defesa de uma amiga e da pluralidade partidária. Olhando a situação local,
porém, interpretamos de modo bastante diverso os motivos do ex-governador.
De
nossa parte, não resta dúvida que, quando Jorge Viana se nega a assinar a ficha
de apoio à criação da Rede Sustentabilidade, ele pensa como petista e
governista. Estava preocupado com a criação de um novo partido que, de alguma
forma, aponta os desvios do PT e a maneira destrutiva com que o governo federal
vem tratando a questão ambiental. A estas preocupações se somava a de evitar
que este novo partido viesse a criar embaraços eleitorais para Dilma no cenário
nacional.
Contudo,
embora haja diferenças[2] entre Marina e os irmãos
Viana, verdade é que Marina nunca lhes negou pública e enfaticamente seu apoio.
Eleição após eleição, ela dá sua bênção às candidaturas da FPA. E foi assim
mesmo quando, pelo PV, concorreu contra o PT no cenário nacional.
Marina
congrega votos dos cansados com o PT e com o governo, dos utópicos e outros
tantos que comungam de seu ambientalismo ongueiro-empresarial (ver A rede de Marina). E a impressão de
que ela representa algo em tudo diverso ao que está posto no Acre faz com que
seu apoio renda votos importantes à FPA.
Querendo
ou não, a distância que a ex-senadora mantém da FPA (exagerada por muitos,
defendemos) faz parte do jogo e favorece a coalizão. Diante do fortalecimento
político-eleitoral da oposição, alardeia-se a desgraça do passado a fim de, com
terror, garantir a manutenção da desgraça presente. E assim Marina justifica
seu apoio à FPA e rompe com a coalizão sem nunca romper efetivamente.
O
apoio de Marina é ainda fundamental para a exportação da imagem de um Acre que,
desde a eleição da FPA, vem supostamente concretizando os sonhos de Chico
Mendes, respeitando a natureza e crescendo economicamente, harmonizando
interesses os mais diversos, das madeireiras e das populações locais. Vale destacar:
se críticas há de sua parte ao modelo de desenvolvimento localmente assumido, a
ex-senadora nunca lhes deu livre curso.
Ora,
ainda que haja outros motivos, o apoio de Jorge Viana à Rede Sustentabilidade
se deve a esta importância de Marina para o projeto em curso no Acre. Internamente,
os votos que ela ainda é capaz de garantir aos candidatos da FPA. Externamente,
seu testemunho em favor das supostas virtudes que o modelo de desenvolvimento
sustentável encerraria.
Portanto,
negar apoio à Marina repercutiria negativamente tanto no cenário local (perda
de votos) como no nacional e no internacional (perda de uma apoiadora de peso, ex-seringueira,
a testemunhar em favor do desenvolvimento sustentável acriano).
Foi
tentando evitar tais perdas que o ex-governador recuou e deu apoio à Marina. Para
seu pesar, tal apoio foi mal recebido por seus correligionários que,
diferentemente do PT acriano, não têm em Marina uma aliada e sim uma
adversária.
Será
menos embaraçoso para o senador se seu partido o liberar para votar segundo
suas próprias “convicções” a matéria que impõe limites à criação de novos
partidos. Difícil que isso ocorra, mas... pode ser...
Jorge
Viana continuará apoiando Marina? Não sabemos. Todavia, seja como for: haverá menos
virtude que cálculo político a orientar sua atuação. Afinal, como ele disse
recentemente, quando acossado pelo seu partido, ele “nunca foi um rebelde”.
[1]
Formado em Ciências Sociais, com
habilitação em Ciência Política, mestre em Desenvolvimento Regional e membro do
Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e
Desenvolvimento na Amazônia Ocidental - NUPESDAO. E-mail: israelpolitica@gmail.com
[2]
Não negamos a existência de tais diferenças. Só não as reputamos tantas e tão
grandes como alguns fazem.
Um comentário:
Isso é que chamo de beber do próprio veneno ao invés de beber no Próprio Poço.
Acho pouco. Todo castigo é pouco para os traidores.
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