Elder Andrade de Paula (Prof. UFAC)
Lindomar Padilha (Coord. do CIMI)
Dado que o estado do Acre tem sido vendido
mundo afora como modelo de “economia verde” a ser replicado em outros lugares (ver Dossiê: o Acre que os mercadores da natureza escondem
- http://www.cimi.org.br/pub/Rio20/Dossie-ACRE.pdf), é provável que até
o crime do colarinho branco seja convertido em colarinho verde. Assim como transmutaram a destruição em
conservação (“boi ecológico”, “álcool verde”, exploração madeireira “sustentável”,
até o petróleo e gás em vias de exploração no Parque Nacional da Serra do
Divisor deverão receber a denominação “verde”) podem transformar os réus em
vitimas.
Idéia absurda? De maneira alguma, as manifestações
de solidariedade ao governo do Acre emanadas dos podres poderes da sociedade
política e civil visam esse objetivo: transformar os réus em vitimas. O passo seguinte se concentrará numa
monumental operação marketeira destinada a abafar a crise política desencadeada
pela prisão da “quadrilha G7”. Simultaneamente a essa “tempestade de propaganda
governamental” se buscará, longe dos holofotes, recompor os laços de lealdade
nos diferentes níveis ao poder oligárquico convalescente.
A julgar pelas manifestações ativas de
solidariedade entre os que “mandam” e a abominável passividade de um grande
contingente dos que “obedecem” é possível que esses objetivos sejam atingidos. Todavia,
é bom que fique bem claro que o desfecho dessa crise não depende somente desse
arranjo interno ao bloco de poder. Será fortemente influenciado e quiçá
determinado pelas disputas entre forças políticas em nível nacional sob o calor
das disputas eleitorais do próximo ano. No plano internacional também não será
muito fácil recompor a “confiança” e isso pode resultar na retração de
financiamentos externos, como o do BID.
É preciso salientar também que a
possibilidade de contornar provisoriamente a crise não é suficiente para a
manutenção do poder oligárquico chefiado pelos irmãos Viana. São crescentes os
descontentamentos entre os “de baixo” e a perda de legitimidade e credibilidade
de antigos “companheiros” que dirigem e ou dirigiam organizações
representativas dos trabalhadores urbanos, camponeses e povos indígenas. O Abril
Indígena 2012-13 e a recente eleição para o STTR de Xapuri ilustram com clareza
a ruptura com o poder de mando entre os “de baixo”.
No caso do STTR de Xapuri, sob a liderança de
Dercy Teles de Carvalho a base sindical impôs a terceira derrota consecutiva (2005;2009;2013)
aos “companheiros do governo”. Reiteraram nesta ultima eleição o seu rechaço a política
de espoliação de seus territórios travestida de “desenvolvimento sustentável”.
Cientes de que seriam derrotados, os “companheiros do governo” recorreram à
trapaça para tentar tomar de assalto o Sindicato. Primeiro, entraram com ação
judicial pedindo a suspensão das eleições, perderam. Depois participaram do
processo eleitoral fazendo campanha pelo voto em branco, perderam. Agora tentam
novamente conseguir na esfera judicial o que não foram capazes de conquistar junto
a base sindical: a direção da entidade.
Dizem os “companheiros do
governo”, conforme as palavras de Julio Barbosa no Jornal “Pagina 20” que “o PSOL, o PSDB e o PMDB estão juntos manobrando para desacreditar os
projetos do PT no Acre” (http://www.pagina20online.com.br/index.php/cotidiano/654-filhos-do-darli-votam-no-sindicato-dos-trabalhadores-rurais-de-xapuri.html). Barbaridade!!!!! Efetivamente o PT tem demonstrado também no Acre que
dispensa tal ajuda para “desacreditar o seu projeto”, ele tem sido
suficientemente competente para fazê-lo com suas próprias mãos. Ademais, não
poder-se-ia fazer desacreditar naquilo que não existe: o “projeto” gerenciado
pelo PT no Acre também não é dele, é a expressão mais acabada do capitalismo
verde na Amazônia, tal como a matriz instituída via Banco Interamericano de Desenvolvimento
–BID e Banco Mundial-BIRD.
Conhecemos Dercy há muito tempo, ela
tem o “D” de Dignidade. Tal como ela, acreditamos que existam em terras
acreanas milhares de mulheres e homens dignos que haverão de combater sem
tréguas os trapaceiros e quadrilheiros do “colarinho verde”...
Superando a noite fria da dor e da morte e vendo
nascer um novo dia, assim como queria o revolucionário Chico Mendes
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