As tensões internas à Frente Popular do Acre (FPA) são hoje insofismáveis, bem como as dificuldades em conseguir consenso que daí
decorrem.
Em verdade, apenas sob o
primeiro governo de Jorge Viana (PT), a coalizão mostrou-se capaz de
estabelecer consenso, amparar-se em amplo apoio popular. Já sob o segundo
governo do atual senador, ficou claro o caráter autoritário daquela força
política (ver Amor nos tempos da cólera:
notas sobre democracia no Acre e
Tião, um governo trapalhão... e déspota).
Por isso, as dificuldades
encontradas para a eleição de Binho (PT) a governador do estado. Alguém poderia
dizer que essas dificuldades foram em razão de Binho ter perfil técnico e não
de candidato, que se, em vez dele, fosse candidato de maior expressão e apelo
popular, as coisas seriam diferentes.
Ocorre que, nas eleições de
2010, também Tião Viana (PT) e Jorge Viana - que diziam pretender ser,
percentualmente, o senador mais bem votado do Brasil - tiveram dificuldades.
Ficaram a poucos votos de Tião Bocalom e Petecão.
O resultado das urnas
mostrava claramente a perda de capacidade em conseguir apoio popular, de
estabelecer consenso na sociedade. O fracasso social e econômico desses
governos apenas acentuava o problema. Se a coalizão não perdeu o governo foi
por causa do controle sobre a máquina estatal e os poderes estabelecidos, o
controle sobre a imprensa e sindicatos e movimentos sociais. A “relação
próxima” com o empresariado e as oligarquias locais (ver Operação G7: uma leitura política) e as debilidades próprias da
oposição (ver Oposição, o talismã do
governo) também contaram nesse sentido.
Além disso, internamente à
FPA, as coisas caminhavam no mesmo sentido. Quando, nas eleições de 2012,
Perpétua Almeida (PCdoB) foi preterida em favor de Marcus Alexandre (PT) para
disputar a prefeitura da capital acriana, a tensão interna à coalizão aflorou
com certa força.
Eram notórias as
dificuldades em estabelecer consenso no meio social e, também, no seio da
própria FPA. E agora esta dificuldade aflora com força em outro nível: no PT.
Em dias recentes, os
sujeitos que concorrem à presidência daquele partido fariam um debate. De um
lado, Ermício Sena, candidato oficial do governo. De outro, Sibá Machado,
candidato de alguns descontentes com os rumos do partido. E, então, os
apoiadores de um e de outro se engalfinharam.
Tal fato mostra, pelo menos,
duas coisas: 1) os caciques do PT estão fragilizados de tal maneira que já não
conseguem, sem problemas, apoio em sua própria base; 2) as tensões internas ao
partido são de tal ordem que já não é possível resolvê-las diplomaticamente,
pela via das disputas de ideias e propostas.
As críticas que Jorge Viana desferiu
contra o governo de seu irmão deixou o cenário ainda mais complicado. Em
entrevista, o senador fez críticas a alguns secretários e disse querer
participar mais do governo. Tião Viana não gostou e o mal-estar entre os irmãos
se tornou indisfarçável.
Como dizer agora que ninguém
se entende na oposição? E se Perpétua, apoiada por seu partido, tensionar para
concorrer ao Senado ano que vem? Não há nada que esteja tão ruim que não possa
ficar pior ainda...
[1]
Cientista Social,
Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Acre (UFAC) e
membro do Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia
Ocidental – NUPESDAO. E-mail: israelpolitica@gmail.com
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