quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

As praças e as ruas não me verão... nem a favor do impeachment, nem a favor do governo

Israel Souza[1]
            É mais que patente o clima de indignação política no Brasil. Em parte, isso deve aos escândalos de corrupção na Petrobras e às medidas antipopulares que, contrariando as promessas de campanha, o Governo Dilma vem tomando; e, em parte, se deve a um desencanto geral com a política.
            Encabeçada pelo PSDB, uma ala impenitente da direita brasileira procura alimentar e se apropriar dessa indignação. Mantendo-se fiel à sua tradição golpista, escolheu o impeachment como seu grito de guerra no momento.
            Incautos e impulsivos, uns tantos têm dado ouvidos a esse canto de sereia. Nem desconfiam que assim podem desencadear uma série de acontecimentos que muito dificilmente poderão controlar, sendo mesmo provável que o resultado de tal ação seja o oposto do que pretendem em sua boa vontade.
            É importante que se façam perguntas sobre esse inquietante cenário. Ocorrendo o impeachment, quem ficará à frente do governo que virá? As coisas hão de melhorar? Cremos que não, pois bem sabemos quem está por trás de tal proposta, conhecemos seus ideários políticos e sua maneira de governar.
            É consabido que o impeachment pode criar um vácuo de poder. E, nesse caso, se os militares assumirem o governo, o que pode ocorrer? Pode-se estar abrindo, assim, uma “Caixa de Pandora”. Ninguém sabe que males poderão dela sair, e a esperança quederá ali, prisioneira.
           De todo modo, é lícito ponderar que a fórmula “+ autoritarismo - liberdade” não poderá ter como resultado “Estado - menos corrupção + justiça social”. Pela implantação da República e pelo golpe de 1964, os militares brasileiros já deram prova de sua inclinação antipopular. Um governo militar não é pedra que se possa ferir para dela se extrair leite. Um governo militar não é pedra para ser ferida. É pedra para ferir.
            As forças governistas (e o PT, em particular) de seu lado, começam a encampar a proposta de uma reforma política. É possível perceber dois objetivos convergentes nesse movimento. Por um lado, ao enfocar elementos estruturais, pretendem diminuir (ou anular) a culpa de Dilma pelo que está acontecendo. Por outro, pretendem criar uma agenda paralela, que possa rivalizar com as denúncias de corrupção que pesam sobre o governo, a fim de ofuscá-las.
            É assombroso pensar numa reforma política levada a cabo por PT, PMDB e PSDB, partidos que, juntos com outros, estão implicados nos escândalos de corrupção que hoje envergonham e indignam o país.
           Num gesto que patenteia sua decadência política e moral, o PT insiste que a corrupção na Petrobras pode ser rastreada até os governos de Fernando Henrique Cardoso, talvez até antes. Nisso, ele tem razão, porquanto a corrupção na estatal brasileira é partidariamente multicolor, abarca o azul, o vermelho e outras tantas cores.
         Tem razão também ao dizer que a “mídia golpista” tem feito denúncias de modo seletivo, batendo fortemente nos governos petistas e silenciando sobre os governos do PSDB. Mas a corrupção do governo de ontem não pode servir de desculpa para a corrupção do governo de hoje. Que paguem devidamente todos aqueles que devem. Todos.
      Coisas dessa natureza não mostram senão que PT e PSDB são mais iguais que diferentes. Outrossim, mostram que vivemos um período em que impera a política da miséria e a miséria da política.
          Nas últimas eleições, claro ficou que a principal proposta (verbalizada) dos candidatos que disputavam a presidência era manter as políticas assistencialistas que, se por um lado, têm a virtude de aliviar o sofrimento dos mais necessitados, por outro, os mantêm reféns do governo da hora. É nisso que consiste a política da miséria. Uma política criada não para acabar com a miséria, como dizem, e sim para controlá-la.
          Em razão de serem mais iguais que diferentes, as forças políticas que hoje disputam o comando do país mostram que não representam, em nada, uma alternativa democrático-popular. São apenas mais do mesmo. E nisso consiste a miséria da política.
            Por tudo isso e muito mais é que as praças e as ruas não me verão... nem a favor do impeachment nem a favor do governo... Guardarei minha força militante para investi-la na causa das classes subalternas e não na causa das alas vermelha e azul da direita brasileira.

[1] Cientista Social e membro do Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental - NUPESDAO. E-mail: israelpolitica@gmail.com

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