É
mais que patente o clima de indignação política no Brasil. Em parte, isso deve
aos escândalos de corrupção na Petrobras e às medidas antipopulares que,
contrariando as promessas de campanha, o Governo Dilma vem tomando; e, em parte,
se deve a um desencanto geral com a política.
Encabeçada pelo PSDB, uma ala
impenitente da direita brasileira procura alimentar e se apropriar dessa
indignação. Mantendo-se fiel à sua tradição golpista, escolheu o impeachment como seu grito de guerra
no momento.
Incautos
e impulsivos, uns tantos têm dado ouvidos a esse canto de sereia. Nem
desconfiam que assim podem desencadear uma série de acontecimentos que muito
dificilmente poderão controlar, sendo mesmo provável que o resultado de tal
ação seja o oposto do que pretendem em sua boa vontade.
É
importante que se façam perguntas sobre esse inquietante cenário. Ocorrendo o impeachment, quem ficará à frente do
governo que virá? As coisas hão de melhorar? Cremos que não, pois bem sabemos
quem está por trás de tal proposta, conhecemos seus ideários políticos e sua
maneira de governar.
É
consabido que o impeachment pode
criar um vácuo de poder. E, nesse caso, se os militares assumirem o governo, o
que pode ocorrer? Pode-se estar abrindo, assim, uma “Caixa de Pandora”. Ninguém
sabe que males poderão dela sair, e a esperança quederá ali, prisioneira.
De todo modo, é lícito
ponderar que a fórmula “+ autoritarismo - liberdade” não poderá ter como resultado
“Estado - menos corrupção + justiça social”. Pela implantação da República e pelo
golpe de 1964, os militares brasileiros já deram prova de sua inclinação antipopular.
Um governo militar não é pedra que se possa ferir para dela se extrair leite. Um
governo militar não é pedra para ser ferida. É pedra para ferir.
As
forças governistas (e o PT, em particular) de seu lado, começam a encampar a
proposta de uma reforma política. É possível perceber dois objetivos convergentes
nesse movimento. Por um lado, ao enfocar elementos estruturais, pretendem
diminuir (ou anular) a culpa de Dilma pelo que está acontecendo. Por outro, pretendem
criar uma agenda paralela, que possa rivalizar com as denúncias de corrupção
que pesam sobre o governo, a fim de ofuscá-las.
É
assombroso pensar numa reforma política levada a cabo por PT, PMDB e PSDB,
partidos que, juntos com outros, estão implicados nos escândalos de corrupção
que hoje envergonham e indignam o país.
Num
gesto que patenteia sua decadência política e moral, o PT insiste que a
corrupção na Petrobras pode ser rastreada até os governos de Fernando Henrique
Cardoso, talvez até antes. Nisso, ele tem razão, porquanto a corrupção na
estatal brasileira é partidariamente multicolor, abarca o azul, o vermelho e
outras tantas cores.
Tem razão também ao dizer
que a “mídia golpista” tem feito denúncias de modo seletivo, batendo fortemente
nos governos petistas e silenciando sobre os governos do PSDB. Mas a corrupção do
governo de ontem não pode servir de desculpa para a corrupção do governo de hoje.
Que paguem devidamente todos aqueles que devem. Todos.
Coisas dessa natureza não
mostram senão que PT e PSDB são mais iguais que diferentes. Outrossim, mostram
que vivemos um período em que impera a política da miséria e a miséria da
política.
Nas últimas eleições, claro
ficou que a principal proposta (verbalizada) dos candidatos que disputavam a
presidência era manter as políticas assistencialistas que, se por um lado, têm
a virtude de aliviar o sofrimento dos mais necessitados, por outro, os mantêm reféns
do governo da hora. É nisso que consiste a política da miséria. Uma política criada não para acabar com a miséria, como dizem, e sim para controlá-la.
Em razão de serem mais
iguais que diferentes, as forças políticas que hoje disputam o comando do país
mostram que não representam, em nada, uma alternativa democrático-popular. São
apenas mais do mesmo. E nisso consiste a miséria da política.
Por
tudo isso e muito mais é que as praças e as ruas não me verão... nem a favor do
impeachment nem a favor do
governo... Guardarei minha força militante para investi-la na causa das classes
subalternas e não na causa das alas vermelha e azul da direita brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário