Por Edélcio Vigna, no site do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
O capitalismo atinge sua máxima expansão e os espaços financeiros
globalizados se restringem. O padrão de exploração tecno-industrial dos
séculos passados chega ao limite e não mais reproduz o capital na medida
necessária para manter o sistema. O capitalismo em suas contrações
sistêmicas, por meio de seus agentes, procura criar novos mercados para
expansão do capital.
As crises cíclicas de 10 em 10 anos,
previstas por Marx, se reduzem no espaço e se prolongam no tempo.
Atualmente, as crises se sobrepõem. A crise financeira e de especulação
de preços dos alimentos mobilizam multidões. Mas, a crise da mudança
climática é a mais crítica, pois altera a qualidade das demais crises e
pré-anuncia uma situação de catástrofe para a humanidade.
Este é o
contexto em que se processam as propostas de redução de emissões por
desmatamento e degradação (REDD) e a chegada dos “corretores ambientais”
na Amazônia Legal.
Até então, as terras públicas, as unidades de conservação, as áreas
de proteção ambiental, as terras indígenas e de povos tradicionais não
entravam no jogo mercantil.
O mercado trabalhava com bens regularizados e nunca com bens
imateriais. Nesta nova era de negócios o produto que é colocado no
mercado são as névoas secas da mistura de gases nocivos (smog), os gases
poluentes provenientes do excesso do uso automóvel, os das indústrias,
as toneladas de carbono emitido pelas derrubadas das florestas,
queimadas e pela agricultura em geral.
A proposta de mecanismo de REDD como compensação para as atividades
poluidoras teve uma ascensão meteórica na pauta internacional. O debate
ganhou corpo entre os negociadores internacionais e, em menos de uma
década, o mecanismo já havia ganho um “plus” (REDD+) - acrescentando em
seu portfolio o manejo florestal, recuperação de áreas degradas,
reflorestamento e monocultura de árvores plantadas.
O debate sobre o REDD+ ganhou proporções em 2010 na COP-17, em
Cancun/México. A proposta apresentada pelos “carbon boys” não foi
apoiada pelo Brasil que argumentou “ingerência em sua soberania e não
aceitava certificação que não fosse pública”. Em Cancun, os fóruns
sociais internacionais se colocaram contra “uma nova dimensão do
controle de terras e territórios pelo capital, configurando uma
crescente ameaça aos direitos dos povos”.
O grande problema é que o REDD + não é um instrumento de efetivação
de direitos humanos. Ao contrário, flexibiliza a legislação ambiental e
trabalhista, não tem responsabilidade com a preservação da
biodiversidade nem com o bem-estar das comunidades indígenas,
quilombolas e tradicionais. A lógica que rege o capital “empreendedor” é
captar o maior crédito de carbono a baixo custo e negociá-los a um
maior preço.
O que o REDD promove é um mercado para “corretores ambientais” que
propagam a existência do “consenso da saída única” ambiental, assim como
o pensamento único neoliberal, na economia. No Brasil, o mecanismo de
REDD+ dialoga com a proposta de alteração do Código Florestal, com o
projeto Terra Legal e o processo de regularização fundiária da Amazônia.
Os estudiosos não acreditam que o REDD beneficiará os amazônidas e os
povos da floresta e convencerá as multinacionais a mudar sua lógica
econômica.
As contradições da política brasileira não garantem a possibilidade
de se colocar um freio de arrumação nos grandes projetos nacionais que
ameaçam os biomas e os povos da floresta. O Banco Nacional de
Desenvolvimento Social (BNDES), o maior financiador do agronegócio e
responsável pelas obras que mais desmatam na Amazônia, será o gestor do
Fundo Amazônia que vai financiar os projetos de REDD e REDD+. A
sociedade civil organizada tem como responsabilidade exigir a
visibilidade dos contratos de REDD e monitorar os fundos públicos,
privados ou mistos, como o BNDES.
Atualmente se fala em mercado de carbono sem o menor estranhamento. A
naturalização e o efeito da “política de fato consumado” disponibilizam
o debate. A Bolívia na COP-10, em Copenhague, realizou um trabalho de
educação política ao manter uma postura crítica contra os mecanismos de
pagamentos ambientais. Por sua vez, a Constituição do Equador de 2008,
coloca a natureza como sujeito de direitos.
O avanço da
devastação dos diversos biomas nacionais, as violações dos direitos das
populações da floresta ocorrem sob o silêncio de uma esquerda ortodoxa
ou reformista. O movimento sindical e os partidos políticos
sócio-democráticos fracassaram na tentativa de construir uma unidade
contra-hegemônica.
As grandes centrais sindicais sequer estão
inseridas no debate de REDD, REDD+ e pagamentos de serviços ambientais.
Poucas lideranças partidárias têm noção onde e como é articulado o novo
espaço comercial que vai acomodar os mercados de créditos de carbono. A
proposta que institui o sistema nacional de REDD+ foi aprovada na
Comissão de Meio Ambiente e as tímidas manifestações não foram
suficientes para alertar e incluir no debate a sociedade civil sobre
este novo mercado que se está de olho nos recursos naturais da Amazônia
Legal.
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