quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Obras do PAC podem exterminar índios isolados da Amazônia, alerta relatório do Cimi

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Os mais ameaçados estão no Amazonas, Mato Grosso e Rondônia. Acuados, os indígenas também são vítimas da grilagem e da abertura de estradas. Os dados são do livro "Povos Indígenas Isolados na Amazônia: a luta pela sobrevivência", lançado ontem na Universidade Federal do Acre (UFAC) com apoio do Cimi, cujo representante no Acre é Lindomar Padilha. O livro não registrou a recente ocupação do posto da Funai no igarapé Xinane por peruanos, episódio que está sendo considerado pelas autoridades de segurança pública uma "situação de crise".


Os povos indígenas isolados que vivem nas proximidades das obras de hidrelétricas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal podem ser extintos, segundo relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Os mais ameaçados estão na região sul do Amazonas, norte do Mato Grosso e Rondônia. Os isolados também são vítimas da grilagem de terra e da aberturas das estradas.

Somente na região do rio Madeira, na divisa de Rondônia com o Amazonas, há pelo menos cinco registros de grupos indígenas isolados.

Apenas em 2011, a Fundação Nacional do Índio (Funai) anunciou que iria realizar projetos para acompanhar estes indígenas - dois anos após o início das construção das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau.

 “Toda vez que existe um chamado boom econômico na Amazônia a vida dos isolados fica mais ameaçada. E os grandes projetos de desenvolvimento do passado estão voltando à cena na Amazônia. Esse desenvolvimento vem sendo pensado por interesses localizados fora da região. Não há modelo pensado a partir dos povos que vivem na região”, alerta Francisco Loebens, indigenista do Cimi há mais de 30 anos, e um dos autores do livro “Povos Indígenas Isolados na Amazônia”, produzido em parceria entre o Cimi e a Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Na região do município de Lábrea, no sul do Amazonas, onde os camponeses e assentados são ameaçados por desmatadores e grileiros, há presença de índios isolados sobre os quais nenhum órgão do governo faz referências.

“Só se fala nas ameaças e nos assassinatos dos agricultores. Mas lá em Curuquetê, onde há um intenso conflito de terras, há muitos grupos isolados. Se os grileiros matam os camponeses facilmente, imagine o que eles fazem com os índios”, conta Loebens.

Redução 

Segundo Loebens, desde que o contexto dos grandes projetos começou a ser levado adiante, houve uma redução de 50% dos povos indígenas na Amazônia.

Ele lembra que as chamadas “pacificações” da Fundação Nacional do Índio (Funai) tentavam remover os indígenas do caminho dos empreendimentos, como estradas e fazendas.

Hoje, segundo Loebens, a estratégia é ignorar a presença de índios isolados ao redor dos empreendimentos.

“Estes povos continuam sendo considerados empecilhos para o desenvolvimento. Na região do rio Madeira não foi feito nenhum estudo, nem levantamento sobre os índios isolados, antes da liberação da licença ambiental. No caso de Belo Monte, há referencias de grupos pequenos isolados, mas nada foi feito de fato para manter sua sobrevivência. O que se prefere é simplesmente desconhecer a presença destes grupos”, diz Loebens.

Massacre

Desde que seu povo foi praticamente dizimado na década de 80, os 12 últimos índios juma foram obrigados a conviver com outra etnia, os uru-eu-wau-wau, no Amazonas.

No Maranhão, os awá perambulam por diferentes terras indígenas, sem lugar fixo, em condições precárias e perseguidos por não-indígenas.

Em Rondônia, o “índio do buraco”, último sobrevivente de seu povo, vive literalmente em um buraco. A Funai procura monitorar a presença do indígena, apesar de no passado já ter facilitado o seu deslocamento para facilitar o acesso de fazendeiros, segundo estudo do Cimi.

Os waimiri-atroari, de 1.300 pessoas foram reduzidos a 500 com a construção da hidrelétrica de Balbina, no Amazonas, e hoje luta para ter uma recuperação demográfica.

São estas algumas das condições que vivem hoje os chamados “índios isolados” no Brasil, segundo artigo encontrado no livro publicado pelo Cimi e pela Ufam.

“Quando não é violência direta das armas e das doenças, são os empreendimentos”, diz Loebens.

Relatos

Grandes projetos que colaboram na drástica redução de índios foram as hidrelétricas de Balbina e de Tucuruí, rodovia Transamazônica, BR-364 e 174 e  Perimetral Norte.

Entre os povos que quase foram exterminados estão os waimiri-atroari, yanomami, arara, parakanã, cinta larga e nambikwara.

Segundo dados do Cimi, há hoje 127 grupos indígenas isolados no Brasil, sendo que 90 estão na Amazônia, mas o número pode ser muito superior, já que há casos desconhecidos.

As maiores ameaças são exploração madeireira e o desmatamento, ocupação da terra pelo gado e agronegócio.

No livro do Cimi, o leitor pode encontrar passagens chocantes de relatos de crueldade contra indígenas, como aconteceu com o povo Piripkura, entre os rios Branco e Madeirinha.

Há o caso dos isolados do rio Tanauari, cuja terra foi interditada depois do massacre, mas depois foi desinterditada pela Funai para beneficiar fazendeiros.

Outro caso é dos índios “baixinhos”, no Mato Grosso, que estão recuando à medida que a mata está sendo derrubada.

No Amazonas, um dos casos mais dramáticos é vivido pelos índios suruwahá, com uma população de 142 mil pessoas, que no passado esteve às voltas com uma disputa entre a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Fundação Nacional do Índio (Funai) e a missão Jocum.

Atualmente, aquele grupo conta apenas com a presença de funcionários da Funai, que realizou a desintrução de missionários, por determinação judicial.

Contato

As expedições do Cimi começaram a ser realizadas nos anos 70. Segundo Loebens, as experiências de contato com os grupos foram feitas no contexto dos grupos projetos do país, mas a metodologia era de realizar a "menor interferência possível".

Hoje, o Cimi não realiza mais experiências nestas áreas.

O livro "Povos Indígenas Isolados na Amazônia" foi lançado ontem em Rio Branco. Contatos pelo telefone 68 3238-3317.

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