Lindomar Padilha
A Fundação Nacional do Índio, regional Acre, a Comissão Pró-Indio do Acre, a Federação das Indústrias do Estado do Acre e a Federação da Agricultura do Estado do Acre fizeram o que parecia impossível e que me parece inadmissível: assinaram na terça-feira, dia 18, a mesma moção de apoio ao CEMACT, numa tentativa de responder às graves acusações que pesam sobre o governo e seu modelo de desenvolvimento (in)sustentável.
A moção é repleta de absurdos como o que transcrevo a seguir:
“Dessa forma, não podemos permitir o retrocesso no debate de questões importantes para a sociedade acreana, como é a atividade de manejo florestal, cujos resultados econômicos, ambientais e sociais não podem ser negados. Neste aspecto, vale destacar que a criação de Unidades de Conservação e demarcação de Terras Indígenas associado as atividades de manejo florestal, contribuem para o êxito na conservação de 87 % das florestas acreanas, diminuição significativa das nossas taxas de desmatamento, ao mesmo tempo em que promoveu um expressivo crescimento econômico”.
Destaquei em vermelho a base da mentira governamental assumida por quem assina a moção. Pergunte, meu caro leitor, a qualquer um morador de qualquer Reserva Extrativista em que a sua vida melhorou por causa do chamado manejo florestal? Pergunte ainda qual comunidade indígena fez, faz ou foi beneficiada com o manejo florestal? e, por fim, pergunte quantas terras indígenas foram demarcadas no Acre nos últimos 12 anos? Eu respondo: NENHUMA!
A única terra indígena que avançou no processo de demarcação foi a dos Apolima-Arara e mesmo assim contra a vontade do governo e de suas forças aliadas que fizeram de tudo para que os índios desistissem de lutar por seu direito à terra. O processo avançou por determinação da Justiça Federal que “condenou” a Funai a demarcar a terra. Hoje a terra dos Apolima-Arara está invadida por assentados do PA Amônia e por moradores da Reserva Extrativista do Alto Juruá e a mesma turma que sempre lutou contra os índios, agora apóia a permanência dos invasores e provoca brigas internas na intenção de dividir a comunidade, como fizeram com o povo Nawa
O Senhor Terri Aquino, a época pertencente aos quadros da CPI AC/Funai e a serviço do Governo do Estado do Acre, escreveu sobre este assunto no jornal Pagina 20, coluna papo de índio, em 27/02/2005:
“Aliás, outro equívoco do Cimi é chamar esse povo de Apolima, que é uma invenção de seus missionários que atuam em Cruzeiro do Sul...”
Na época eu era um dos “missionários” que “inventaram” os Apolima-Arara e os Nawa, contra os interesses do governo, como podem ver. O mais irônico e que demonstra o cinismo com o qual o governo (e seus sustentadores) trata os que discordam da política do poder a qualquer custo e do lucro para poucos, vemos manifesto, mais uma vez, no recente lançamento do livro Povos Indígenas no Acre, onde quem escreve sobre os Apolima-Arara é justamente o Sr. Terri Aquino, o mesmo que chamou os próprios Apolima de “invenção do Cimi”.
Leiam "Não se deve calar diante de uma injustiça". E tirem suas próprias conclusões sobre a ligação estreita entre esses setores que há anos compartilham os mesmos interesses e, para tanto, subjulgam pessoas e a natureza, custe o que e a quem custar. Ainda para conferência leiam: "Pra não dizer que não falei de flores".
Não podemos deixar que as coisas continuem como estão. O livro que cito aqui, além de cínico pelos motivos que já expus, é uma afronta aos povos indígenas que a época se manifestaram contra a publicação por julgá-la como sendo apenas meio de propaganda oficial. Eu mesmo fui convidado pelo Sr. Carlos Edegard de Deus em nome do Departamento da Diversidade Socioambiental e da Coordenação da Biblioteca da Floresta Marina Silva, para escrever sobre os Nawa. Naturalmente não aceitei porque preferi ficar do lado dos índios, que eram e sempre foram contrários a este tipo de propaganda que em nada ajuda as comunidades.
Portanto, não é de se estranhar, para quem acompanha os bastidores, que órgãos oficiais e ONGs se unam em defesa de um projeto de morte. Estranho é se juntarem justamente com a Federação das Indústrias do Estado do Acre e a Federação da Agricultura do Estado do Acre, historicamente contrárias aos povos indígenas, tidos por essas federações como preguiçosos, não produtivos e contrários ao desenvolvimento, um atraso!
Termino, por hora, repetindo o que disse o próprio Terri Aquino no citado papo de índio quando dizia ter desmascarado a suposta farsa da invenção dos povos Nawa e Apolima-Arara:
“a mentira vem na frente e a verdade vem atrás...vocês estão vendo como é fácil desmascarar essas mentiras”
“a mentira vem na frente e a verdade vem atrás...vocês estão vendo como é fácil desmascarar essas mentiras”
Fonte: Blog do Padilha
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