segunda-feira, 7 de novembro de 2011

6 de Agosto: a resistência continua...

Israel Souza[1]
Depois de muita luta, enfim, os gestores estatais cederam. Aceitaram realizar uma assembléia na comunidade, explicar o que querem para a área próxima à quarta ponte e aos viadutos recém-construídos. É claro que os moradores têm plena consciência de que tal se deve à resistência que temos levantado à retirada dos moradores dali. Contribuíram nesse sentido a tímida atuação dos meios de comunicação e a denúncia que fizemos no Ministério Público Estadual (MPE).    


No último dia 05/11/2011, os moradores se reuniram mais uma vez. Ali somavam forças e partilhavam suas angústias. Os relatos ouvidos em muito distavam daquilo que é veiculado nos meios de comunicação controlados pelo governo. Um morador dizia que, em função de seu trabalho, às vezes tinha que passar até três dias fora de casa. E agora, que o governo retirou seus vizinhos do lugar, sua casa virou alvo de usuários de drogas e ladrões. Mesmo com esses problemas, ele ainda prefere permanecer no local a sair para o “aluguel social” e, depois, ir morar não se sabe onde.
Com a franqueza dos simples, ele dizia de uma conversa que teve com um representante do governo. “Fulano, e se eu não quiser sair da minha casa pelo que o governo tá me dando”, perguntava ele ao represente governamental. “Aí você não vai ganhar casa”, respondia este. “Então, o senhor vai me desculpar”, retomava a palavra o morador, “mas o senhor tá me pressionando. O senhor tá me pressionando educadamente”.  
Outro relato que chamou a atenção foi o de uma pessoa que aceitou sair de sua casa. Como o governo atrasou o pagamento do aluguel, o dono da casa em que ela se hospedou a expulsou. Agora ela está vivendo numa casa no Judia, sem estrutura. Emocionada, desnorteada, ela perguntava por que o governo atrasava o aluguel.
A equipe do governo diz que está se desdobrando à procura de um lugar para onde levar as famílias. Mas, sinceramente, creio que eles não vão definir isso assim, com facilidade, a não ser que sejam pressionados. Penso que eles não tenham lugar próximo ao centro, como é a área em questão. Daí não dizerem. Isso geraria ainda mais resistência. Ninguém quer sair do centro para as periferias distantes. Todavia, uma vez retirado de casa, como reclamar? Como resistir? A quem recorrer?
Esses e outros tantos relatos mostram quão distante da verdade está o que o governo tem dito sobre o assunto. As pessoas que não conhecem a realidade podem até se enganar, mas o povo do 6 de Agosto não. Este sabe o que ali se passa e está unido, pronto a resistir a tudo quanto lhes venha a ferir os direitos e a dignidade... Estamos em luta...  


[1] Morador, Cientista Social e membro do Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental - NUPESDAO. E-mail: israelpolitica@gmail.com

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