Israel Souza[1]
Novamente, o governo do Acre volta ao bairro 6 de Agosto a fim tirar famílias dali. Dessa vez numa ofensiva maior ainda, não menos truculenta e atrapalhada.
Como relatamos em outras tantas ocasiões, em setembro do ano passado, representantes do governo passaram nas casas que ficam próximas aos viadutos e à 4ª ponte fazendo um cadastro. Como diziam coisas diversas sobre um mesmo cadastro, a insegurança, a confusão e a indignação tomaram conta da população dessa área.
Mentiram e fizeram pressão nas casas para que as pessoas saíssem e fossem morar em aluguel pago pelo governo, até que sua casa ficasse pronta. Sendo o valor desse aluguel apenas trezentos reais, muitas famílias têm que complementar com dinheiro tirado do próprio bolso. Por outro lado, como vez em quando atrasa o dinheiro do aluguel, pessoas já foram despejadas de algumas casas alugadas.
Em menos de 1 ano, há pessoas que já fizeram cinco mudanças. Perderam parte de seus móveis e se dizem profundamente arrependidas de terem saído de suas casas por insistência das equipes do governo.
O governo só parou a retirada das famílias quando alguns moradores, tendo esgotado sua paciência e todos os meios de diálogos, resolveram fechar a 4ª ponte. Então, uma equipe do governo foi à comunidade e disse que “não mexeria com mais ninguém ali”. Como sabemos, o que aconteceu foi que o governo abandonou essa população.
Agora, novamente, o governo volta ao bairro e faz outro cadastro, com a mesma confusão e falta de transparência. Mas agora, além da área referida, os agentes estatais passaram em, pelo menos, 6 ruas: Rua Cearense, 1° de maio, Santa Terezinha, 6 de agosto (trecho final) e Travessa Éden e Travessa Praxedes. Pelas ruas abarcadas com o cadastro, parece que o governo quer acabara com o 6 de Agosto, deixando apenas a rua principal que dá nome ao bairro.
Os moradores voltaram a se organizar. Já procuraram o Ministério Público e a Secretaria de Habitação. Marcamos uma reunião na comunidade para sexta próxima (17), ás 17:30, na quadra que fica à cabeça da 4ª ponte. Uma equipe do governo vai prestar esclarecimentos.
Sabemos que eles estão vinculando esses cadastros com a Cidade do Povo. Os moradores temem que seus nomes e dados estejam sendo utilizados para finalidades que eles desconhecem.
A equipe do governo, em tom confuso, afirma que seria bom ir para a Cidade do Povo. Todavia, esse projeto é muito problemático. O IMAC e o Ministério Público já afirmaram isso. Recentemente, também os militares comprovaram, em reunião feita para apresentar a eles o projeto.
Arrogantes e rasos de entendimento, os que foram apresentar o projeto não souberam responder as perguntaram que foram levantadas pelos militares. Na verdade, é preciso dizer do uso eleitoreiro do projeto. Apenas na cabeça do governo ele é perfeito.
O povo do 6 de Agosto sofre com a alagação. Entretanto, não vai trocar sua história e segurança por algo incerto e problemático como a Cidade do Povo. Tampouco permitirá que o governo utilize isso como pretexto para tirá-lo de sua casa sem seu consentimento.
Talvez em razão do caráter problemático desse projeto e da força de resistência do povo desse bairro - que recentemente completou nada menos que 108 anos - é que o governo, outra vez, age ali com falta de transparência.
Outros textos, para entender o assunto:
[1] Cientista Política, Membro do Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental (NUPESDAO) e morador do bairro.
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