Israel
Souza[1]
Como
afirmamos em texto anterior (Operação
G-7: uma leitura política), o governo da FPA está em maus lençóis.
Pretendia manter o julgamento do escândalo G-7 no TJ/Ac, que ele controla. Entretanto,
o STF decidiu que o órgão local está impedido de julgar qualquer coisa referente
ao caso.
O desespero
Isso representou uma derrota
para o governo e seus consortes, pois o caso será julgado na instância federal,
onde o governo local não manda praticamente nada. Fosse o julgamento aqui, havia
grande chance de apenas os “peixes pequenos” pagarem a conta, salvando-se os “grandes”.
Agora a coisa é bem outra.
Fundamentado em investigação da Polícia Federal (PF) e julgado por um órgão
federal, dificilmente será possível julgar e condenar os pequenos sem que o
mesmo ocorra aos grandes. Em nossa opinião, ou todos são inocentados (o que é
praticamente impossível de acontecer, dadas a gravidade das denúncias e a
contundência das provas colhidas e a apresentadas pela PF) ou todos são
condenados.
Como se pouco fosse, os
programas Ruas do Povo e Cidade do povo foram suspensos. Muitos devem lembrar a
importância propagandística do Ruas do Povo na campanha de Marcus Alexandre (PT).
Onde o programa - ou simplesmente suas promessas - chagava era mais fácil fazer
a campanha do candidato governista.
A Operação G-7 veio mostrar
que, além da conveniência propagandística que o programa tinha para as forças
governistas, havia ainda a promíscua relação com as empreiteiras que ganhavam
quando não faziam as ruas ou quando as faziam precariamente. Não foram poucas
as denúncias sobre a precariedade dos trabalhos executados.
Certa vez, o governo
reconheceu o problema, disse que as empresas responsáveis pelas obras seriam
cobradas. Mas também reconheceu não ter estrutura adequada para o trabalho de
fiscalização.
A essa altura, podemos nos
perguntar: será que toda essa encenação não fazia parte do esquema?
Com efeito, o papel que, nas
eleições passadas, fora cumprido pelo Ruas do Povo na campanha de Marcus
Alexandre, seria cumprido pelo Cidade do Povo nas eleições do ano que vem. Este
serviria de peça propagandística para a tentativa de reeleição de Tião Viana (PT)
e, segundo se pode inferir das investigações da PF, seria mais uma oportunidade
para que governo e empreiteiras celebrassem sua cópula abjeta.
Como se vê, são graves os
motivos de desespero do governo da FPA. É com razão que Tião Viana e sua esposa
andam perdendo sono, preocupados com a operação G-7. Daí os ataques
sistemáticos e cada vez mais baixos desferidos contra a atuação da PF e das
desembargadoras Denise Bonfim e Maria Cezarinete Angelim.
A decadência
Quanto a isso, foi emblemático
o evento promovido pelo governo e seus consortes. Disseram-no em “favor da
justiça, da democracia e contra o golpe”. Dando atestado de seu nível
intelectual e virtudes morais, Aníbal Diniz atacou as desembargadoras,
dizendo-as “magoadas, mal resolvidas”. Essa não foi a única barbaridade que ali
se ouviu. Todo o evento foi um bizarro espetáculo de baixezas, cinismo e
puxa-saquismo.
Vale destacar, além disso, que
o evento contou com algo em torno de 2.000 (duas mil) pessoas. As forças
governistas trouxeram até pessoas do interior, colocando veículos à disposição para
o transporte. E mesmo com toda estrutura e ameaças conseguiram reunir apenas
esse punhado de pessoas.
Ora, tal também havia sido
observado na manifestação de apoio aos 11.000 (onze mil) servidores que podem
perder o emprego. Num e noutro caso, é visível o quanto o poder de mobilização
do governo vem decaindo, junto com sua legitimidade, sua hegemonia. Mesmo o
poder econômico, a força e a farsa parecem esbarrar nos limites que a
decadência política, intelectual e moral impõe.
Não cremos que o governo
espere que esse tipo de “manifestação popular fabricado pelas forças oficiais”
vá mudar algo no rumo das investigações ou mesmo do julgamento do caso.
Pensamos que ele, assim, pretende evitar que a condenação jurídica implique em
desaprovação eleitoral. Com isso, ainda que condenado, pretende que a população
o veja como perseguido, injustiçado.
A política
da distorção
Por isso, segue distorcendo
os fatos. Para ele, lutar por pessoas envolvidas em crimes é lutar pela
justiça. Ameaçar servidores de demissão ou perseguição, para que estes manifestem
apoio ao governador, é lutar em favor da democracia.
Devemos nos preparar para o que
de patético e perigoso as forças governistas ainda deverão fazer em sua desesperada
luta para manterem o poder e, assim, alimentarem-se dele e esconderem o sem-número
de desmandos praticados.
Marchemos
em frente, rumo ao dia do basta e além
O método utilizado pelo governo
tem apresentado seus limites. Está cada vez mais difícil esconder tanto lixo embaixo
do tapete. Parece realmente aproximar-se odia do basta. Todavia, é preciso conjugar coragem e otimismo com cautela. A
fera não está morta, não foi abatida. Apenas está ferida, acuada e, portanto,
desesperada e perigosa.
Marchemos
em frente. E, como disse o poeta, “não nos
afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”
(Carlos Drummond de Andrade).
[1] Cientista Social com habilitação em Ciência
Política, mestre em Desenvolvimento Regional e membro do Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia
Ocidental - NUPESDAO. E-mail: israelpolitica@gmail.com
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