-Ao Ministério da Justiça
Exmo. Sr. José Eduardo Cardoso, Ministro da Justiça
- À Diretoria de Proteção Territorial da FUNAI
Sr. Aluísio Ladeira Azanha – Diretor (dpt@funai.gov.br)
- À: 6ª Câmara de Conciliação-
Exma. Drª Débora Duprat
-À Polícia Federal
Exmo. Sr. Leandro Daielo Coimbra, Diretor geral
-Ao Ministério Público Federal
Exmo. Sr. Dr. Eitel Santiago de Brito Pereira,
Sub-procurador Geral da República
Rio
Branco, 27 de setembro de 2013
Ref:
Moção pública de apoio à demarcação das terras indígenas no Acre
Prezados
Senhores e Senhora:
Como é do
conhecimento de vossas excelências, vivenciamos atualmente no Brasil uma
pressão sobre os direitos conquistados nacional e internacionalmente no que se
refere aos povos indígenas. O tensionamento das conquistas através, por
exemplo, do novo marco regulatório da mineração, da proposta de substitutivo ao
Projeto de Lei 1610/96 que dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de
recursos minerais em terras indígenas, da PEC 215 que transfere para o
legislativo a prerrogativa de demarcação de terras indígenas e do
enfraquecimento das políticas do órgão de defesa e proteção destes povos, vem
intensificar os conflitos territoriais, violência física, psicológica e
simbólica, cujo resultado mais visível é o genocídio, abandono e desamparo aos
povos indígenas.
Neste
contexto, nos preocupa a situação de calamidade e sofrimento com a qual nos
deparamos durante visita ao estado do Acre. Nessa ocasião, conhecemos de perto
a realidade na qual se encontram os povos indígenas, em especial aqueles que
apesar dos anos de luta e reconhecimento ainda não têm as suas terras demarcadas.
Nesta
ocasião, percebemos que apesar da região - que compreende o estado do Acre, o
Noroeste do estado de Rondônia e a chamada Boca do Acre, Amazonas - ter 32
terras indígenas demarcadas, apenas quatro destas são homologadas. Mais grave
ainda é o fato de que 21 terras indígenas ainda aguardam a sua demarcação e
regularização, incluindo as de povos isolados. Em decorrência da falta de
garantia territorial, essas terras se encontram invadidas por madeireiras e
fazendeiros gerando conflitos, inclusive violentos, com os povos indígenas.
Pudemos
conhecer de perto a situação em que a comunidade indígena Jaminawa de São
Paulino, próximo de Sena Madureira, é obrigada a viver. As 24 famílias desta
terra indígena, vivem hoje em apenas 5 hectares sob a constante ameaça de
fazendeiros, invasores das suas terras que vêm destruindo a floresta com a
extração de madeira e criação de gado. Os indígenas e principalmente suas
lideranças são intimidadas e ameaçadas – verbalmente ou mesmo a tiros - pelos
invasores, quando buscam praticar suas atividades tradicionais como a
agricultura, caça e pesca dentro do seu próprio território, com o único
objetivo de sustentar suas famílias. Além de serem vítimas de violência, caso
essa situação não seja resolvida imediatamente, os povos da comunidade de São
Paulino correm o risco de morreram de fome por falta de terra para praticar sua
atividade de sobrevivência. Esta situação revela uma clara violação de todos os
direitos conquistados pelos povos indígenas, em especial os direitos originários
sobre as terras que tradicionalmente ocupam, destinando-lhes a sua posse
permanente e o usufruto exclusivo de suas riquezas naturais.
Vale
lembrar que a comunidade ganhou uma ação judicial ainda em 2012 que determina a
imediata retirada de invasores não indígenas, assegurando apenas a presença de
pequenos produtores. A ação tramita na 1ª Vara Federal do Amazonas, sob o nº
12687-27.2012.4.01.3200. Porém a ordem judicial ainda até agora não foi
cumprida. A mesma segue em anexo. Decisão
Judicial não cumprida.
É também
do nosso conhecimento que em 2002, um Grupo de Trabalho da FUNAI iniciou os
estudos de identificação do território de São Paulino para atender a
reivindicação da comunidade de demarcação de cerca de 6000 mil hectares de
terra. Apesar da FUNAI comprovar que se trata de terras tradicionalmente
ocupadas pelos Janinawa, o órgão, desde 2004, tem interrompido seus trabalhos.
A promessa da FUNAI no Acre de apoiar a comunidade na sua reivindicação e
aliviar seu sofrimento tem sido sistematicamente descumprida.
Ressaltamos
também que a FUNAI, enquanto órgão responsável pela regularização de
territórios indígenas no Brasil, tem sido igualmente omissa no caso dos outros
povos no Acre que também aguardam pela demarcação das suas terras e consequentemente
sofrem de ameaças e violência, como as terras Curralinho, Nawa (Naua),
Kuntanawa, Jaminawa do Guajará, Jaminawa do Rio Caeté, Manchineri Serigal
Guanabara, Jaminawa e Kulina (Madjá) do Estirão, Nukini da Aldeia Kampô,
Apurinã e Jamamadi do Monte (Monte, Primavera e Goiaba), Jamamadi do Iquirema,
Jamamadi de Lourdes, Apurinã do Cajueiro, Apurinã do Valparaíso, Jaminawa do
Caiapucá, Jamamadi de Maracajú, além das terras dos povos em situação de
isolamento. É inadmissível que não se cumpra a constituição brasileira,
colocando um fim à situação de constantes ameaças e sofrimentos destes povos.
Ao mesmo tempo, os povos cujas terras já foram demarcadas também vivem sob a
ausência de outros direitos historicamente conquistados e conflitos territoriais.
Além
disso, somamo-nos à revolta das lideranças indígenas de que suas ações de
protesto e denúncia não têm sensibilizado a FUNAI e as demais autoridades. Ao
contrário, em vez de serem ouvidos, lideranças indígenas têm sofrido um brutal
processo de criminalização, vivendo sob o medo de ameaças de morte e
respondendo processos judiciais por ações de denúncia da omissão das
autoridades e violências sofridas.
Por outro
lado, sabemos que volumosos recursos públicos têm sido aplicados no estado para
atividades que ameaçam diretamente as comunidades e territórios indígenas como
as atividades madeireira e pecuária. São atividades que atendem a um pequeno
grupo de interesses somando à pressão que o agronegócio brasileiro exerce sobre
o Congresso e Governo para enfraquecer e reduzir a garantia dos direitos
indígenas no Brasil. Enquanto isso o estado do Acre realiza diversos esforços
para divulgar uma imagem a nível internacional de um Estado modelo que protege
as suas florestas e as comunidades que delas dependem, em especial as
comunidades indígenas. Não foi o que vivenciamos durante a nossa visita.
É neste
contexto, que exigimos ações urgentes por parte da FUNAI e demais órgãos
competentes no sentido de colocar fim a criminalização dos povos indígenas e
retomar e finalizar, dentro de prazos acordados com os povos indígenas em
questão, o processo de regularização das terras indígenas sob a jurisdição da
FUNAI do Estado do Acre. Somente assim estará a FUNAI e o Estado brasileiro
cumprindo finalmente com a constituição brasileira e os acordos internacionais
dos quais o Estado é signatário, garantindo aos indígenas os seus direitos
historicamente conquistados.
Confiantes
de que as conquistas democráticas ser‹o respeitadas e promovidas por este
governo, despedimo-nos.
Atenciosamente,
Rede Brasil sobre Instituições Financeiras
Multilaterais
Amigos da Terra Brasil
Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais - WRM
Aliança RECOs – Redes de Cooperação Comunitária Sem
Fronteiras
Movimento Mulheres pela P@Z!
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