quinta-feira, 5 de março de 2015

“Equilíbrio catastrófico” no Brasil...

            Israel Souza[1]
Nas ultimas eleições, logo no “abrir das urnas”, ficava claro o desgaste de Dilma e do PT. Com larga razão, a insatisfação com o governo se manifestava nas ruas e nas urnas. E a vitória apertada da candidata petista dava conta de que tal desgaste atingira preocupantes níveis.
Com a formação de um ministério mais que conservador e com as medidas anti-populares que tomou, Dilma apenas jogou mais lenha na fogueira que contra ela queima. Os escândalos de corrupção - e a maneira “esperta” com que a mídia os explora - deixam as chamas maiores a cada dia.
  Isso não dá o direito de a ala azul da direita aplicar o golpe, mas a estimula. Em verdade, defendendo e difundindo a ideia de que, derrubando o atual governo, resolveríamos o problema da corrupção e faríamos a democracia prevalecer, ela vem angariando apoio de amplos setores descontentes com o governo.
Desse modo, o “equilíbrio instável” mostrado nas urnas parece ceder espaço a um “equilíbrio catastrófico”[2]. Ninguém pode apontar, com segurança, o resultado do conflito entre as duas grandes forças políticas em disputa no país.
Quem sair às ruas no próximo de 15, pedindo o impeacheament de Dilma, poderá mandar pelos ares nossa Constituição e o arremedo de democracia que ela sustenta. Por outro lado, quem sair às ruas no próximo dia 13 estará dando uma espécie de carta branca à Dilma, sustentando-a em sua opção de continuar sendo a mãe do capital financeiro e o flagelo dos trabalhadores e dos índios e etc...
Acertadamente, a CONLUTAS rejeitou as duas manifestações, corajosamente propondo sua própria agenda, popular e trabalhista. Contudo, por ora, isso é insuficiente para alterar a correlação de forças que caracterizam o equilíbrio catastrófico de que se falou acima.
Os próximos dias serão de extrema importância para nosso futuro. Importa aquilatar sobriamente, sem indiferença ou arroubos, de que lado se postar.




[1] Cientista social, Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Acre - UFAC - e membro do Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental - NUPESDAO.
[2] “Equilíbrio instável” e “equilíbrio catastrófico” são conceitos de Gramsci, usados às vezes como equivalentes. Aqui faço a distinção entre ambos, por compreender que, mesmo “instável”, nem todo equilíbrio é “catastrófico”, mas apenas aqueles que apontam para desfechos totalitários.
          

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