Semana passada, dia 18, sexta-feira,
por volta das 17:00 hs. os indígenas que estão acampados na sede da Funai
reivindicando seus direitos, especialmente a demarcação das terras, a garantia
de vida aos ameaçados de morte, a atenção à saúde e à educação, receberam das
mãos de um oficial de justiça um mandado de citação e intimação para
desocupação do prédio da Funai. Não foram surpreendidos na verdade porque
vindo da coordenação regional do órgão, tudo se espera de contrário aos
interesses dos povos indígenas, inclusive o uso da força.
O que mais chamou a atenção na
justificativa do pedido de reintegração de posse, oriundo de um ofício
encaminhado à procuradoria pela coordenação regional, foi a cínica afirmação de
que:
"a ocupação do prédio da Funai
causa obstáculo à implementação das políticas de proteção e concretização de
direitos fundamentais garantidos aos próprios indígenas responsáveis pela
invasão ilícita."
Ora, se os indígenas ocuparam o
prédio justamente porque a Funai não cumpre com suas obrigações, é inoperante.
O ofício vai ainda mais longe e diz, nas palavras repetidas pela coordenação
regional, assumidas pelo Sr. Juan Scalia, apontando dez atividades que
supostamente deixaram de ocorrer por causa da ocupação da Funai. Todos os dez
pontos apresentados, ao contrário do que querem fazer crer, nada tem a ver com
a manifestação dos indígenas. Vou transcrever um desses pontos, o de número
cinco (05) que diz textualmente:
Por fim, o que se espera é que um
rompante de sensatez ilumine a mente dos senhores juízes para que não permitam
que mais essa barbaridade aconteça contra os já sofridos povos indígenas do
Acre. Lá no acampamento estão senhores idosos, senhoras, crianças, pessoas que
só querem uma coisa: que seus direitos sejam respeitados e que o poder público
cumpra com suas obrigações.
Em nenhum momento os indígenas
acampados ameaçaram ninguém. Ao contrário tentaram estabelecer diálogo com a
coordenação Regional, que se negou veementemente. Os índios afirmam que querem
que os funcionários, proibidos de trabalhar por ordem da coordenação regional,
voltem ao trabalho. Até os vigias foram impedidos de trabalhar por ordem da
coordenação. Mais uma ironia: ao mesmo tempo que a Funai reivindica a posse
justificando a defesa do patrimônio, a mesma Funai retira os vigias, cuja
função é justamente garantir o patrimônio.
O índios não querem impedir a Funai
de trabalhar, ao contrário, estão exigindo que trabalhe e cumpra com suas
obrigações.
Deixo aqui o meu apelo ao poder judiciário, pessoas sensíveis e que
buscam a equidade na justiça, para que intercedam e evitem mais um ato
desnecessário e altamente agressivo a estes povos que ao longo da história
perderam quase tudo. O que desejam é muito pouco e é justo.
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